São Paulo, sábado, 4 de março de 1995
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Protetores e protegidos

JANIO DE FREITAS

Figura eminente da "burrice nacional", Carlos Heitor Cony considera "suspeita a sua (de Fernando Henrique) tática de colocar uma pedra em cima do caso das concessões", aquelas 349 outorgadas nos últimos cinco dias do governo Itamar Franco.
Burro sem aspas e sem eminência, ouso uma contribuição ao cronista e aos seus leitores que passem os olhos por aqui. É apenas um desdobramento do último parágrafo de Cony: "Ou FHC ficou solidário com Itamar Franco por amizade, e encampa uma bandalheira, ou tem interesse maior, político e pessoal no caso".
Se existe amizade, não sei, nem encontrei jamais um só motivo para supô-la. Mas a explicação para o "interesse político e pessoal", talvez Cony e seus leitores a encontrem na própria memória, lembrando-se do teor, divulgado no começo de dezembro, das conversas que movimentaram o telefone grampeado do então presidente da Telerj, José de Castro Ferreira. Eram os papos mafiosos sobre a tomação de dinheiro, a pretexto das campanhas eleitorais em que os dois interlocutores estavam envolvidos, com indícios claros de que boa parte dos cifrões ficava nos bolsos dos tomadores.
Quem conversava com José de Castro era Djalma Moraes, o então ministro das Comunicações que depois assinaria as concessões agora avalizadas por Fernando Henrique. Em um dos telefonemas, aliás, Djalma narra a reunião em que foi discutido o destino de cinco milhões, não se sabe se de dólares ou de reais. Um dos presentes, citado na narrativa escabrosa: Fernando Henrique Cardoso.
Incomodar o detentor de informações comprometedoras, como Djalma Moraes, é um risco de desmoronar junto com o incomodado. Isso explica a falta de reação também ao crime das gravações clandestinas. Todos os citados preferiram fingir que nada chegara ao conhecimento público. Embora todos saibam, e muita gente saiba além deles, quem foi o mandante das gravações. O qual, liberando a amostra de uma fita, transformou as demais em habeas corpus ardiloso contra as investigações de que estava sendo objeto. Por alta corrupção, como integrante do esquema Collor-PC Farias. Passou de acusado a protegido. E nesta condição continua, para melhor usufruir da fortuna obtida em uma estatal do Ministério das Comunicações.
Quem nega compreensão a esses jogos de interesses é mesmo, como dizem o presidente Fernando Henrique e seus áulicos, a "burrice nacional". Os outros são a rica inteligência.

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