São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Preços baixos paralisam despoluição do Tietê

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Os baixos preços de 31 obras de esgotos paralisaram o projeto de despoluição do rio Tietê. É um episódio inédito no país que se acostumou com denúncias de superfaturamento.
As empreiteiras, acusadas de prática de "dumping" (oferecer preços muito abaixo do valor de mercado), não tiveram condições de tocar as obras pelo custo que haviam vencido as concorrências.
O governo paulista cancelou os contratos e deve punir as construtoras com a proibição de participar de licitações no Estado.
Ao oferecer, em 1993, custos abaixo dos orçamentos oficiais das obras, o governo Mário Covas (PSDB) avalia que as empreiteiras apostavam em acertos para reajustes futuros.
As empresas são as seguintes: Concisa (cinco obras), Igarapé (11), Polaris (dez), Coest (três) e Nakano (duas). Elas iniciaram as construções de coletores e interceptores de redes de esgotos, no ano passado.
Essas construtoras são de porte médio. Três delas —Concisa, Igarapé e Polaris— pertencem à mesma família e são comandadas por Clóvis Rosa da Cruz.
Quando venceu a concorrência para um conjunto de 26 construções, há dois anos, no governo de Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB), Rosa da Cruz causou espanto no mercado.
Ele se transformou de um desconhecido e discreto empreiteiro em um exemplo acabado de como se poderia reduzir os custos das obras públicas no Brasil. Foi louvado na imprensa e sofreu críticas dos concorrentes.
Na tarde de anteontem, grandes empreiteiros ouvidos pela Folha gargalhavam de satisfação com a história protagonizada por Rosa da Cruz e as suas empresas.
Para falar sobre o assunto, no entanto, os construtores, como é de costume, se reservaram ao direito de pedir que não fossem identificados.
As 31 obras que terão os seus contratos cancelados fazem parte de um pacote 53 construções básicas para o projeto de despoluição, contratadas em 1993.
Todas estão incompletas e agora o governo terá que fazer novas licitações para a escolha de outras empreiteiras que irão tocá-las.
As construções têm financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). As 31 obras foram contratadas por cerca de R$ 32 milhões.
Segundo o orçamento feito pela Sabesp (Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo), essas construções deveriam custar, para que fossem mesmo concluídas, pelo menos R$ 100 milhões.
Em alguns casos, de acordo com planilha de custos da Sabesp, foram contratadas até por 25% do valor que deveriam custar.
Esse seria o caso, por exemplo, de um coletor de esgotos em Suzano (Grande São Paulo), onde o governo planejava gastar até R$ 2,5 milhões (orçamento oficial) e a empreiteira Igarapé venceu a licitação com uma proposta de R$ 635 milhões.
Na região do ABCD, outro exemplo: a construtora Nakano topou fazer um coletor de esgotos por R$ 546 mil. O orçamento da Sabesp era de R$ 2,3 milhões.
Esse tipo de proposta, com preço que chama a atenção por ser baixo, é conhecido no folclore dos empreiteiros como "mergulho".
Mas esse não é o único problema das obras e serviços do Tietê. O projeto sofre também da acusação mais comum no ramo das obras públicas: a de ter os seus custos superfaturado (leia reportagem nesta página).
Isso poderia ser contraditório, mas não é. O projeto é dividido em várias etapas e contratos, como se fossem diversas obras isoladas.
Dessa forma, parte dele é alvo de denúncias de superfaturamento e outra enfrenta ataques por conta de subfaturamento.

Texto Anterior: PM prende e mata ladrão no meio da rua
Próximo Texto: Empreiteiro culpa alta de custos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.