São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Ricardo Semler, a eminência parva

ROBERVAL CONTE LOPES

. Ricardo Semler sofre de uma rara doença psíquica: o anonimato lhe desespera. Como se trata de um político falso, um empresário sofrível e um escritor medíocre, o problema se agrava. Sem méritos próprios, o homem fuça em sua própria lama, na busca de alguma notoriedade.
. Para melhor compreensão do fenômeno, vejamos o histórico deste indivíduo. No dia de seu casamento, aterrisou para a cerimônia em um balão. Típico filhinho de papai, nunca trabalhou na vida: é herdeiro por profissão. Tentou a ribalta da política. Mas não quis começar por baixo, como vereador ou deputado. Tinha - e pelo que se depreende das bobagens dominicais que escreve na Folha de S. Paulo, ainda tem um desejo obsessivo: ser governador de São Paulo.
. Nas eleições municipais passadas, foi preterido na disputa interna de seu partido, que achou prudente dar a legenda a alguém mais equilibrado, e mais capaz como o deputado e hoje secretário estadual do meio-ambiente. A partir daí desequilibrou-se de uma vez passando a atacar a tudo e a todos em sua coluna desta Folha, com o linguajar grosseiro e rasteiro que o caracteriza.
. O que este paranóico megalomaníaco faz aos domingos, no espaço que a Folha generosamente lhe cede, é uma agressão, e não apenas às vítimas de sua verborragia, mas sobretudo um acinte aos leitores. Não há empresa ou personalidade de destaque na vida brasileira que esteja a salvo das agressões covardes dessa pretensa eminência, que antes de ser parda, é parva.
. Parafraseando Eça de Queiroz, somente com uma fé cínica ou uma obtusidade córnea (ou ambas) pode-se aceitar as infâmias assacadas por este desajustado contra o maior escritor brasileiro deste século, Jorge Amado, glória de nossa literatura e de nosso povo, autêntico patrimônio cultural da humanidade. O que também vale para a sórdida campanha de desestabilização e desmoralização movida por ele a partir de sua coluna contra a Varig, empresa que faz de suas agências espalhadas pelo mundo autênticas embaixadas do Brasil.
. Por estes exemplos, verifica-se que não é apenas sua própria situação de anônimo, frustado e medíocre que lhe oprime: o sucesso lhe é absolutamente insuportável. Prova disso é o permanente ódio que destila contra Roberto Marinho, cujo nome é sinônimo de eficiência empresarial. Pior ainda é o rancor contra políticos, acentuado desde que os vitoriosos nas eleições tomaram posse nos governos federal e estadual, sem lhe fazer um convite para qualquer cargo. O atual governador, ao contrário, escolheu um empresário sério e honrado, como Emerson Kapaz, para seu secretariado.
. A Folha de S.Paulo é hoje o mais importante jornal do Brasil e um dos melhores do mundo. Seus profissionais são sérios, seus colunistas são dignos. Tudo isto torna ainda mais paradoxal que entre tanta gente boa e honrada possa infiltrar-se um escroque, que utiliza sua coluna, ora como trampolim político, ora como gazua, ameaçando pessoas honestas como fazem os meliantes, nas ruas escuras.

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