São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Plantação de uva esconde biblioteca japonesa

VALMIR DENARDIN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO MIGUEL ARCANJO (SP)

Descendentes de japoneses mantêm um monumento literário em meio a plantações de uva de uma colônia agrícola no município de São Miguel Arcanjo (190 km a oeste de São Paulo).
Trata-se de uma biblioteca que abriga 150 mil livros no idioma japonês. É quase a metade do acervo da biblioteca Mário de Andrade, a maior de São Paulo, que tem 321 mil títulos, entre livros e periódicos.
As seis bibliotecas públicas de São Miguel Arcanjo —cinco delas em escolas— reúnem 15.325 volumes. O município tem 27 mil habitantes.
Somados aos 10 mil livros de outra biblioteca nipônica da cidade, o acervo de obras em japonês em São Miguel Arcanjo é quase 11 vezes maior do que o número de livros escritos em português à disposição dos moradores.
"É uma pena que essa riqueza toda não possa ser usada pela maioria da população por causa da barreira da língua", afirma a diretora do Departamento Municipal de Educação, Teresa Marchesin Floriolli, 53.
Apenas 7,4% dos habitantes do munícípio são imigrantes ou descendentes de japoneses.
A biblioteca —incluindo os 150 mil livros, o terreno de 12 hectares e o prédio— foram presente do empresário japonês Tetsuto Amano às 50 famílias da Colônia Agrícola Pinhal, localizada a 12 km da cidade.
A colônia de agricultores foi criada no início da década de 60 por imigrantes que receberam financiamento do governo japonês.
A biblioteca veio duas décadas depois, em 1982. Segundo Tadashi Sakurai, 56, diretor cultural da Associação São-Miguelense, o empresário gastou, na época, 20 milhões de ienes (valor que atualmente corresponde a cerca de R$ 170 mil) na obra.
"Ele conseguiu muitas doações de livros de japoneses que vivem em outros países", diz Sakurai, um imigrante que chegou ao Brasil em 1956, aos 17 anos.
Rodeada por jardins, a biblioteca japonesa abre apenas aos sábados à tarde.
Segundo o agricultor Katsuharo Ochi, 50, uma espécie de administrador do prédio, cerca de cem pessoas emprestam livros toda semana. "Elas vêm da própria comunidade e até de cidades vizinhas."
O acervo impressiona os visitantes pela diversidade. Há enciclopédias, romances de escritores universais, livros de filosofia, ciências, história e gibis.
É possível encontrar até um livro, traduzido para o japonês, que mostra as belezas do Rio de Janeiro.
Segundo Sakurai, boa parte desses livros será doada a uma biblioteca que a comunidade japonesa pretende construir na Liberdade, o bairro oriental de São Paulo.

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