São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Mercado externo se fecha para o Brasil

CRISTIANE PERINI LUCCHESI; RODNEY VERGILI
DA REPORTAGEM LOCAL

RODNEY VERGILI
O mercado internacional está fechado para empréstimos a empresas brasileiras com prazo de pagamento superior a um ano.
A situação se agravou a partir da crise do México, em dezembro de 94. Os investidores institucionais e pessoas físicas, que compravam papéis de empresas brasileiras, ficaram cautelosos com os "mercados emergentes", principalmente na América Latina.
Depois da alta nos juros dos EUA em 94, os investidores foram procurar na renda fixa dos países desenvolvidos um "porto seguro" para suas aplicações.
Hoje, não há compradores para papéis de longo prazo de empresas brasileiras, segundo especialistas ouvidos pela Folha.
Resultado: os papéis (eurobônus) com vencimento no primeiro semestre deste ano (US$ 1,41 bilhão) serão quitados e não renovados, afirma Jair Ribeiro da Silva Neto, diretor do Banco Patrimônio de Investimento, associado à Salomon Brothers. As dúvidas persistem quanto ao mercado no segundo semestre, quando vence mais US$ 1,702 bilhão em eurobônus.
Com a crise, as empresas, se precisarem investir, terão de tentar encontrar formas "criativas" de crédito no mercado externo ou aceitar pagar taxas de juros bem superiores no mercado interno.
O juro no Brasil é de no mínimo 23,65% ao ano (para os subsidiados e minguados empréstimos do BNDES). Um emissor de eurobônus teria de pagar no máximo 15%, já com todos os custos.
Mas não apenas as empresas saem prejudicadas. O pagamento de eurobônus significa dinheiro que sai do país. Ou seja, pode contribuir para o déficit no balanço de pagamentos com nada menos do que US$ 3,112 bilhões em 95.
O Bamerindus tem eurobônus que vencem este ano. Segundo Anthony Pain, diretor da área internacional, a estratégia da instituição é de quitação do empréstimo sem esperar renovação.
A Petrobrás também tem US$ 110 milhões em eurobônus, que vencem no próximo dia 10.
Segundo Aurora Maria Peixoto, superintendente-adjunta de operações do serviço financeiro, a empresa não espera refinanciamento e já tem recursos de caixa disponíveis para quitar o empréstimo.
Isso não foi o que aconteceu com a empresa de papel e celulose argentina Alto Paraná, que não conseguiu pagar seus eurobônus de US$ 60 milhões que venciam ontem. Os bancos acionistas terão de socorrer a empresa.
"Isso danifica mais o mercado", diz Luiz França, diretor do Excel Banco. Segundo ele, no Brasil isso não aconteceria. "O país não oferece risco e está em uma situação econômica privilegiada na América Latina. Só não sei quando os investidores vão ver o Brasil com outros olhos", disse.
Eduardo Saad, diretor-superintendente da Merrill Lynch, também não acredita que as empresas brasileiras, "que estão capitalizadas", deixem de honrar compromissos. Ou vão pagar com o caixa, diz, ou vão buscar refinanciamento no curto prazo.

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