São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Caractere chinês é fóssil vivo

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

O linguista Zhou Youguang define assim o seu idioma materno: "Os caracteres chineses representam um problema e um tesouro para a China". Na tentativa de facilitar a compreensão desse mundo de sinais que substituem um alfabeto, os escritores Yin Binyong e John Rohsenow lançaram o livro "Caracteres Modernos Chineses".
O sistema de caracteres chineses lembra um fóssil vivo no mundo da escrita. Surgiu há cerca de 3 mil anos, na dinastia Shang, e registra cerca de 60 mil sinais representando palavras que a China usou durante os séculos para registrar a sua história.
O livro de Binyong e Rohsenow conta a origem da escrita chinesa, sua evolução, forma, pronúncia e significado. Os autores preferiram enfatizar os 7 mil caracteres usados no chinês contemporâneo, simplificado por vontade do Partido Comunista depois de sua chegada ao poder em 1949.
Orientados pelo governo, linguistas chineses passaram a trabalhar em projetos voltados para sistematizar e simplificar os caracteres, assim como a padronização de pronúncia e ordem dos sinais.
Essa nova versão "comunista" do idioma difere do chinês falado em Taiwan, imune às simplificações impostas por Pequim.
Em 1958, os comunistas também trouxeram um novo sistema de transliteração, o "pinyin", ou seja, como usar letras do alfabeto latino para reproduzir os sons do idioma chinês.
"Caracteres Modernos Chineses" traz um quadro detalhado dos resultados obtidos pelo projeto comunista de simplificação do idioma e facilita a compreensão das mudanças, oferecendo mercadoria valiosa para aqueles que se aventuram no estudo do chinês.
O livro, com 397 páginas e preço de 26,05 yuans (US$ 3,1), entra na onda montada para promover os caracteres e rebater os argumentos de que a China deveria adotar o alfabeto latino, como fizeram os vizinhos vietnamitas.
As propostas de adoção de um alfabeto latino ganharam alguma repercussão nos anos 30, quando os críticos dos caracteres comparavam os sinais a um "venerável senhor incompatível com o mundo moderno". Hoje em dia, até os computadores já se renderam aos caracteres chineses.
Editado pela Sinolingua, "Caracteres Modernos Chineses" se transforma numa espécie de amuleto para os estrangeiros interessados em aprender a escrever no idioma de Mao Tse-tung. Diversos estudantes desenvolvem a parte oral do aprendizado, mas empacam na hora de passar as mensagens para o papel.
Há quem defenda a tese de se adotar os caracteres chineses como uma escrita universal, para superar a barreira das diferenças entre idiomas. A estranha idéia já funcionaria entre a China e o Japão.
Os dois países contam com línguas distintas, mas podem se entender, com certa dificuldade, através da escrita. Acontece que o Japão criou a sua escrita usando como matriz o sistema chinês.

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