São Paulo, terça-feira, 7 de março de 1995
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Países mais ricos debaterão IPMF global

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A COPENHAGUE

O governo do Canadá comprometeu-se a defender junto aos países do G-7 a adoção de uma espécie de IPMF (imposto provisório sobre movimentação finnaceira) global, a taxa sobre transações com moedas estrangeiras.
A proposta será levada à reunião dos países mais ricos marcada para o meio do ano em Halifax (Canadá), cuja agenda principal é debater a reformulação dos organismos internacionais.
A informação de que o Canadá defenderá a proposta foi dada pelo deputado australiano John Langmore, membro da delegação de seu país à Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Social.
Langmore acrescentou que seu país é simpático à taxa, chamada de Imposto Tobin, por ter sido originalmente lançado pelo Prêmio Nobel de Economia James Tobin.
Além de Langmore, outras especialistas concederam ontem entrevista para defender a tributação: a americana Hazel Henderson, da Comissão Global para Financiar as Nações Unidas, e a alemã Inge Kaul, diretora de um dos escritórios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Mas o enfoque foi diversificado. Até agora, a taxa sobre a movimentação com divisas visava a arrecadar fundos para a ONU.
Com a incontrolável crise nos mercados de câmbio dos últimos dias, os defensores da proposta vêem nela uma outra utilidade: conter a especulação.
Para Henderson, 90% do US$ 1 trilhão que é todos os dias movimentado nesse mercado "é especulação e não comércio".
Segundo o deputado australiano Langmore: "É uma taxa sobre Wall Street e não sobre o cidadão comum". Refere-se à rua onde fica a sede da Bolsa de Nova York e, por isso mesmo, o maior centro financeiro planetário.
Hazel Henderson referiu-se à crise mexicana para lembrar que, logo depois dela, o diretor-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Michel Camdessus, disse que havia no mundo mais "umas dez situações potencialmente iguais à do México".
"Não teremos dinheiro para lidar com 10 ou mais potenciais Méxicos", disse ela.
A especialista norte-americana retomou um tema que o megainvestidor George Soros havia levantado em janeiro, durante o Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos (Suíça).
Soros dissera que o mundo podia se encaminhar para uma situação "tipo 1929", em alusão à crise que se seguiu ao colapso da Bolsa nova-iorquina naquele ano.
Henderson citou 1929 ao perguntar: "Quantas vezes teremos que encenar o cenário 1929 antes de entrar em ação?"
A proposta de introdução do imposto não figura no documento final da cúpula, mas o texto deixa a porta aberta, ao defender a necessidade de fontes inovativas de financiamento para a ONU.
Com a crise cambial se espalhando, a nova tributação pode parecer uma boa saída para unir o útil (conter a especulação) ao agradável (financiar a ONU para investir no desenvolvimento social).

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