São Paulo, quinta-feira, 9 de março de 1995
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Violência na madrugada

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Para a mesma "violência na madrugada", mais uma, aliás, as redes cariocas Globo e Manchete deram versões bem diversas. A versão da Globo:
— Traficantes botam fogo em ônibus para vingar a prisão de bandido.
Outros detalhes, na Globo:
— A polícia diz que foi vingança do Comando Vermelho. A ação dos traficantes foi uma resposta à Polícia Civil, que prendeu um dos principais homens da quadrilha de Pedrinho, um traficante ligado ao Comando Vermelho.
Sobre um eventual apoio da população, nem palavra. A ação passou por represália do tráfico e ponto. A versão da Manchete foi outra:
— Moradores do subúrbio carioca queimam três ônibus durante um protesto.
Mais detalhes, na Manchete:
— Os moradores fizeram o protesto para denunciar a violência policial. A manifestação começou por causa da morte de dois rapazes. Cerca de dez homens passaram em dois carros, atirando em direção ao local. Os dois rapazes morreram no hospital. Outras duas pessoas ficaram feridas. Os moradores dizem que os tiros foram disparados por policiais.
— Eram carros da polícia. Com a farda da PM mesmo.
Mais detalhes, na Manchete:
— Os traficantes aproveitaram a manifestação para procurar policiais entre os passageiros, para serem mortos.
O quadro é de guerra civil. A primeira derrota é da notícia, ou da televisão.

Vazamento e fritura
A cobertura do caso, no geral, foi oficialista. Registrou-se a acusação e sublinhou-se, ressaltou-se a defesa do ministro da Fazenda. Como na manchete do TJ, ontem:
— Pedro Malan reage e pede as provas de que teria havido vazamento sobre a desvalorização do real.
Ninguém deu provas, nem parece disposto a tanto. A ironia da Record;
— O prato do dia foi a denúncia de Delfim Netto de que houve vazamento da desvalorização do real. Delfim lançou a denúncia e mandou o PT correr atrás. O PT devolveu dizendo que quem entende de malandragem cambial é Delfim.
No empurra-empurra, fica no ar a acusação. Para a fritura à paulista, é o que basta.

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