São Paulo, quinta-feira, 9 de março de 1995
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Ausência de FHC recebe críticas de dirigentes

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A COPENHAGUE

A ausência do presidente Fernando Henrique Cardoso à Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Social, em Copenhague, está causando tanto mal-estar que os dois senadores brasileiros presentes enviaram ontem um fax urgente pedindo que FHC venha.
Os oposicionistas Eduardo Suplicy (PT-SP) e Benedita da Silva (PT-RJ) dizem no fax que, nos contatos com representantes de outros países, notaram "o quanto estão preocupados e o quanto gostariam, como nós, que o Brasil se fizesse presente pelo excelentíssimo senhor presidente".
Não exageraram. A Folha também ouviu, no gabinete do presidente da cúpula, Juan Somavia, as mesmas observações a que se referem Suplicy e Benedita.
Antes mesmo da cúpula, FHC recebera apelos do governo chileno (autor da proposta da conferência) para que ele comparecesse.
Ontem, Carlos Contreras, que comanda agora a Comissão Sul-Americana de Paz, organização não-governamental (ONG) criada por Somavia, relatou o pedido que fizera a FHC durante a sua visita do início do mês a Santiago.
"Eu lhe disse que a presença dele teria significado além da cúpula em si. A América Latina precisa, depois da crise do México, mostrar uma liderança e ele é o indicado para tanto", disse.
É tamanho o mal-estar que o jornal dinamarquês "Politiken", que edita uma versão especial para a cúpula, em inglês, destacou o assunto em sua primeira página de ontem. Menciona números sobre os péssimos indicadores sociais brasileiros e diz: "Esses dados tornam notável a ausência do presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso na Cúpula Social".
As queixas são ecumênicas entre os brasileiros. Os representantes oficiais do Brasil lamentam a ausência apenas em voz baixa, por motivos óbvios. Mas os membros das ONGs assumem a crítica.
"Talvez ele tenha subestimado a cúpula por superestimar o papel do desenvolvimento puramente econômico na questão social", arrisca Jorge Eduardo Saavedra Durão, da Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional).
Reforça Átila Roque (Ibase, Instituto Brasileiro de Análise Social e Econômica, presidido pelo sociólogo Betinho): "O registro que ficará da cúpula é o de que o Brasil não esteve representado no mais alto nível". Antes do fax dos petistas, as ONGs também haviam pedido a presença de FHC. A delegação brasileira já estava, até ontem, sendo chefiada pelos embaixadores Luiz Lindenberg Sette e Luiz Antônio Jardim Gagliardi. Hoje, chega o novo chefe, o ministro da Educação, Paulo Renato Souza.

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