São Paulo, quinta-feira, 9 de março de 1995 |
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Cabo tentou deixar PM, mas foi reprovado
CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
Também tentou ser promovido a sargento, mas foi vetado. É o que consta de dossiê sigiloso de 23 páginas que o Serviço Reservado da PM carioca mantém sobre o cabo, ao qual a Folha teve acesso. No último sábado o cabo matou Cristiano de Melo, 20, após assalto no shopping center Rio Sul (Botafogo, zona sul do Rio). A morte foi filmada por uma equipe da Rede Globo de Televisão. A ficha do cabo Carneiro revela que ele tentou entrar na Polícia Civil em abril de 1987 e na PF em julho de 1988, sem sucesso. Também não conseguiu ser promovido a sargento, depois de ter feito o curso de sargento de armas, no final de 1987. Apesar de estar ligado a outras cinco mortes desde que está na Polícia Militar, há oito anos, o cabo é um dos mais elogiados entre os membros do 3º Batalhão da PM, no Méier, onde servia. "Ele é um policial zeloso e competente. O cabo Flávio é exemplo a ser seguido por seus pares e subordinados e um orgulho para seus superiores. É com prazer que o elogio", escreveu na página 22, da ficha funcional do cabo, o tenente—coronel PM Paulo Sérgio de Oliveira Silva. A folha disciplinar do cabo Carneiro tem informações contraditórias. Num documento datado de 22 de abril de 1993, o capitão PM Alec Moura atesta que o cabo é dono de "ação policial totalmente irregular". Mas, na abertura do documento, consta a seguinte anotação manuscrita "Classificação de Comportamento: ótimo". Apesar disso, dois oficiais ouvidos pela Folha consideram o cabo um militar "sofrível", a partir dos dados que constam de sua ficha funcional. Por exemplo: a média obtida pelo cabo nos cursos que fez na PM nunca ultrapassou sete. Quando quis se tornar cabo, em 25 de junho de 1990, ele obteve o 194º lugar entre os classificados. Carneiro possui 14 elogios em sua ficha disciplinar. Entre eles: prendeu dois "elementos armados" no estádio do Maracanã, durante o festival "Rock in Rio 2", em janeiro de 1991, e dois assaltantes de banco, no centro do Rio, em 20 de novembro de 1990. Em 5 de novembro de 1992 ficou preso por oito dias, punido pela PM por não ter comunicado que "estraçalhou" um carro da Telerj com o automóvel da polícia. O caçula de sete irmãos, o cabo mora em Mesquita, bairro de periferia da Baixada Fluminense. Solteiro, cursa o 2º ano de direito da faculdade Gama Filho. Segundo sua irmã, a assistente social Vanda Carneiro, 40, o único hábito notável no cabo é a vontade de ir ao cinema com sua noiva, para assistir sempre a filmes policiais. Seu advogado, Zairo Lara Filho, diz que o cabo é um "homem exemplar". Segundo Zairo seu cliente "nunca trabalhou com burocracia, sempre na linha de frente do combate ao crime, e é por isso que está sendo punido, porque se protegeu da morte". Texto Anterior: Irregularidades marcam investigação Próximo Texto: Protesto mata dois e queima três ônibus Índice |
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