São Paulo, quinta-feira, 9 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dworecki questiona o ensino da arte

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

A mostra "Do Olho à Mão: Um Método de Ensino de Artes Plásticas" é uma ilustração da tese do arquiteto e artista plástico Silvio Dworecki, defendida na Faculdade de Arquitetura da USP. A exposição, no MAC Ibirapuera até 2 de abril, é uma verdadeira aula sobre os processos plásticos dos alunos do Jogo Estúdio, onde Dworecki leciona.
A exposição traz trabalhos dos alunos Augusto Sampaio, Vera Sanovicz, Elisete Ambar, Luis Fernando Novaes e Arlete Carlos. Há também uma mostra dos trabalhos do próprio Silvio, feitos entre 1964 e 94, demonstrando sua crença de que "o professor deve ser capaz de fazer arte para poder ensinar".
No método de Dworecki, alguns mitos sobre a arte e o artista caem, felizmente, por terra.
"A norma das escolas de arte é tentar se chegar o mais próximo possível da cópia do real. Os alunos são incentivados a primeiro adquirir 'técnica', tentar pintar igual ao professor, e só depois aprender a se expressar. Esse caminho é perigoso, pois condiciona a expressão", diz Dworecki.
No método dele, há duas etapas básicas na produção artística de qualquer indivíduo. A primeira refere-se a busca do que é novo para ele, o que não quer dizer que esse seu novo seja novo também para a História da Arte. É um período de desinibição do traço, da procura de uma vocação para a expressão plástica, onde o desenho adquire personalidade.
"A criança abandona o desenho no período de alfabetização porque as regras da escrita acabam passando para o desenho. É preciso reliberar o adulto desse condicionamento. O indivíduo deve encontrar seu território de expressão, o que no mundo mais o estimula como fonte de criação. Um artista como Morandi passou a vida pintando garrafas. Foi ali que ele encontrou seu território", diz.
A segunda etapa do ensino artístico relaciona-se à busca do que é novo para o indivíduo e também para a arte. É nessa coincidência que nasce o artista.
"É nessa fase que se avalia a importância das referências da própria história da arte", diz Dworecki, derrubando também o mito do artista auto-didata.
"Se alguém já fez algo, por que não aprender com ele? O artista, como qualquer outro profissional, tem que ser informado". (KC)

Texto Anterior: Arte conceitual faz renascimento português
Próximo Texto: Povo adverte: Maluf faz mal à saúde!
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.