São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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'Até que enfim ele deu alegria', diz mãe

CRISTIANE RAMALHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A casa em que Saul Vicente do Amaral vive, quando não está nas ruas, tem quarto, sala e cozinha. Fica no morro Ponto Chique, em Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense.
Nela moram os pais de Saul e seus nove irmãos.
Não há água encanada na casa. Quem desce o morro para buscar água é a mãe de Saul, a dona-de-casa Maria Eugenia do Amaral, de 40 anos.
O pai, José Vicente da Silva, 49, é alcoólatra. Pedreiro, está desempregado e vive de biscates.
Maria Eugenia recebeu com alegria a notícia sobre a súbita fama do filho. "Até que enfim ele me deu uma alegria. Minha vida é só tristeza", afirmou.
Maria Eugenia diz que Saul passa a maior parte do tempo nas ruas porque "fica revoltado ao ver a miséria da família".
Ela está arrependida de ter tido tantos filhos. "Não sei se foi maluquice, burrice ou falta de orientação", disse.
O coordenador do projeto Rodar, Jorge Rodrigues, disse que o menino adora aventuras. Uma vez, Saul "fugiu" de carona para São Paulo, onde passou dois meses. Depois, subiu num trem cargueiro e quase foi parar em Minas Gerais.
Rodrigues diz que Saul nunca se envolveu em casos policiais.
Quando o filho passa muitos dias longe de casa, a mãe diz que não consegue dormir. Ela acredita que a ida de Saul para a cúpula de Copenhague foi "uma bênção dos céus".
Maria Eugenia espera que na Europa o filho possa aprender "muitas coisas e mudar de vida".
A família ganha duas cestas básicas a cada mês do projeto Rodar. O Rodar, por sua vez, recebe do Ibiss, uma instituição não-governamental holandesa, uma verba mensal de US$ 1.700.
O projeto é voltado para o atendimento a meninos e meninas de rua que vivem na região de Nova Iguaçu.
Até poucas semanas atrás, Saul Vicente do Amaral trabalhava no Rodar fazendo agendas e sacolas com papel reciclado. Pelas quatro horas diárias de trabalho, recebia meio salário mínimo.
"A mãe dele brigou e disse que o filho estava sendo explorado. Ele ficou irritado e foi embora", disse Jorge Rodrigues, o coordenador do projeto.
Saul viajou à Dinamarca acompanhado por um dos educadores do projeto Rodar, Lúcio Flávio do Nascimento.

Colaborou a Sucursal do Rio.

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