São Paulo, quinta-feira, 9 de março de 1995
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Escândalo leva general belga a se matar

ANDREW MARSHALL
DO "THE INDEPENDENT"

Erramos: 10/03/95
O nome da cidade Belga de Liège saiu grafado errado neste texto.
Escândalo leva general belga a se matar
O general da reserva Jacques Lefèbvre, 64, cometeu suicídio ontem devido ao escândalo de corrupção que abalou a política belga. Ele foi encontrado morto num quarto de hotel na avenida Louise, perto do centro da cidade de Lige.
Lefèbvre deixou quatro cartas de suicídio e aparentemente se matou com barbitúricos, o que só será confirmado após a autópsia.
Seu nome havia sido vinculado a propinas supostamente pagas pela fabricante italiana de helicópteros Agusta para conseguir um contrato de venda de 46 aparelhos ao Exército da Bélgica, por US$ 442 milhões. Documentos da Agusta citam Lefèbvre como "nosso contato" e "alguém com quem podemos trabalhar" .
A casa do general chegou a ser revistada e ele foi interrogado pela Justiça há duas semanas.
O general foi ajudante-de-ordens do rei Balduíno e chefe do Estado-Maior da Força Aérea belga. Passou à reserva em dezembro de 1988, logo depois da assinatura do contrato dos helicópteros.
A Agusta negou ter pago qualquer propina, mas os dois partidos socialistas belgas (francófono e flamengo) foram atingidos por acusações de receber pagamentos para seus fundos políticos.
O suicídio aconteceu em meio à veiculação de novas denúncias sobre o caso pela imprensa belga. O escândalo vem sendo vinculado ao assassinato, em 1991, do vice-premiê André Cools, também líder socialista em Lige.
Novas testemunhas afirmaram recentemente que o caso está ligado a um grupo mafioso que envolveria figuras políticas, empresariais e do submundo em Lige, cidade natal do autor de romances policiais Georges Simenon.
Willy Claes, secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), admitiu ter sido informado sobre a oferta de pagamentos por líderes partidários. Na época do escândalo dos helicópteros, ele era ministro da Economia.
Claes está nos EUA, onde se reuniu com o presidente Bill Clinton. Ele vem recebendo apoio norte-americano, embora políticos de outros países da Otan tenham sugerido que ele deve renunciar até que o caso seja esclarecido.
Três políticos belgas já foram presos e notícias sobre o caso têm saído diariamente na imprensa do país. Ontem revelou-se a apreensão, pela polícia, de cartas entre Claes e diretores da empresa aereonáutica francesa Dassault.
Claes vem evitando fazer declarações públicas há pelo menos duas semanas, desde que admitiu que sabia da oferta de propinas.
Claes obteve apoio dos embaixadores da Otan quando expôs sua versão do caso. Mas, segundo diplomatas, em seguida ele divulgou uma declaração feita pelos embaixadores sem permissão deles.
Alguns diplomatas especulam sobre a possibilidade de Claes vir a renunciar. Isso poderia precipitar uma crise sucessória na aliança, semelhante à que se seguiu à morte de seu antecessor, Manfred Woerner, em 1994.
Os nomes mencionados nos corredores da sede da Otan incluem o ex-premiê holandês Ruud Lubbers e o ex-chanceler dinamarquês Uffe Ellemann-Jensen.
Mas os EUA talvez relutem em ver a secretaria da aliança militar ocidental entregue a mais um representante de um país pequeno.

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