São Paulo, quinta-feira, 9 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Hóspedes não perdoam nem as Bíblias

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

É hora de arrumar as malas para deixar o hotel. O turista está sozinho no apartamento. As toalhas, os cinzeiros e as nécessaires estão ao alcance da mão. Nesse cenário, muitos não resistem ao impulso de jogar tudo dentro da mala.
Nesse momento começa uma corrida contra o relógio. Se o turista fecha a conta antes da blitz que a camareira faz nos apartamentos está livre. Exceto no Hilton.
"Já aconteceu de cobrarmos aquele cinzeirinho furtado anteriormente numa segunda visita do hóspede", diz Patrícia Perrone, gerente da recepção do hotel.
Outra estratégia para reaver bens furtados no Hilton é entrar em contato com a empresa onde o hóspede trabalha.
"Há pouco tempo, os tripulantes de uma empresa aérea furtaram diversos objetos. Cobramos da empresa. Depois, os tripulantes ligaram dizendo que seriam demitidos e pediram perdão", lembra a gerente, que não perdoou.
Segundo Perrone, os objetos mais furtados, além dos cinzeiros, são roupões e travesseiros de pena. "Dificilmente os hóspedes furtam coisas maiores. O mês passado foi uma exceção. Levaram 12 rádios-relógios."
Lembrete
Uma estratégia para coibir furtos acabou provocando mais dores-de-cabeça para o dono do hotel Ca'D'Oro, Aurélio Guzzoni.
Devido ao alto número de roupões desaparecidos, o hotel passou a deixar um cartão nos bolsos lembrando que a indumentária era propriedade do estabelecimento e que poderia ser adquirido na lojinha do hotel.
"Os furtos de roupões dobraram naquela época. Nossos cartõezinhos passaram a ser um lembrete para aqueles hóspedes que não estavam predispostos a furtar."
"Quando a camareira abriu o armário deles encontrou quatro bules e dez colheres escondidas", conta Guzzoni.
Além dos hóspedes que "pintam o sete" com cinzeiros e roupões, o Caesar Park teve problemas com um estilista francês que resolveu pintar o lençol da cama.
O lençol ficou irrecuperável e o estabelecimento resolveu doá-lo ao estilista.
Peças grandes
Segundo o gerente de operações do Maksoud Plaza, Daniel Mallevergne, os furtos mais surpreendentes que aconteceram no hotel ultimamente são as pedras brasileiras que ficam expostas nos corredores dos apartamentos.
"É preciso muita vontade e espaço na mala para carregar essas peças. Cada uma pesa mais de dez quilos."
Além disso, o gerente diz que muitos clientes religiosos estão desrespeitando o sétimo mandamento (não roubarás) e estão levando as Bíblias dos criados-mudos nos apartamentos.
Há 20 anos no Brasil, Mallevergne já trabalhou em hotéis na França, Hong Kong, Indonésia e Filipinas. "Em nenhum desses lugares se furta tanto quanto no Brasil", diz.

Texto Anterior: TESTE SEU COMPORTAMENTO EM TRÂNSITO
Próximo Texto: Falta de marca diminui furto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.