São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 1995
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The Cult vem pela segunda vez ao Brasil

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

A banda inglesa The Cult volta ao Brasil para checar sua popularidade. Em dezembro de 1991, fez um único show no país, lotando o ginásio do Ibirapuera. Agora, tem três dias no Olympia —de 21 a 23 de março— e ainda toca no Rio.
Billy Duffy tem a visão do forte Álamo da janela de seu hotel, em San Antonio, no Texas. É uma parada da turnê do novo LP, "The Cult".
Em 12 anos, The Cult foi chamado de punk, gótico, hippie, hard rock e até banda de excessos.
"Nunca estivemos na moda", ele diz, por telefone, em entrevista à Folha. "Dar o nome da banda ao novo LP é mais uma mostra de como somos antiquados".

Folha - Por que o sucessor de "Ceremony" demorou três anos para surgir?
Billy Duffy - Depois de "Ceremony", eu e Ian (Astbury, o vocalista) despedimos nosso empresário e os outros membros da banda.
O LP anterior, "Sonic Temple" (1988), tinha feito muito sucesso e era pesadíssimo. E "Ceremony" apontava para o pop. Não queríamos virar um grupo comercial.
Folha - Falou-se muito sobre os excessos do Cult durante a turnê de "Sonic Temple" —e que esse teria sido o motivo para a banda implodir depois de "Ceremony". É verdade?
Duffy - A imprensa adora tornar tudo mais espetacular do que é. Nunca houve muitas drogas no caminho do Cult. Mas não escondo que gosto de beber.
Folha — Mas o novo disco tem muitas referências à drogas. Chega a citar River Phoenix e Andrew Wood (vocalista do Mother Love Bone), que morreram de overdose.
Duffy - Na minha opinião, a mensagem do disco é uma grande vontade de viver. Eu gostaria de continuar vivendo. Você não?
Folha - Você já se acostumou a ver o Cult atacado pela crítica por mudar de estilo a cada LP?
Duffy - A crítica nos ataca por existirmos. Sim, mudamos muito entre os discos, mas isso é natural para uma banda de vida longa.
Já imaginou o que teria acontecido se os Beatles tivessem ficado em "Love Me Do" durante dez anos? Com certeza, o rock não seria o que é hoje. Led Zeppelin e Rolling Stones também mudaram bastante durante a carreira.
Folha - A transição do punk para o hard rock, que concebeu o álbum "Love" (1985), hoje soa como uma antecipação do grunge. Vocês acha que o disco estava à frente de seu tempo?
Duffy - Sempre estivemos muito à frente. Ou muito atrás. Nunca estivemos colados na moda.
Quando gravamos "Love", elogiando Led Zeppelin e, no caso de Ian, com cabelos longos, as bandas tinham medo de confessar que gostavam de rock'n'roll. O punk ainda era recente.
Hoje, escuto Pearl Jam e Soundgarden e tenho certeza que essas bandas ouviram "Love".
Folha - Foi por causa da má vontade da crítica inglesa que vocês mudaram para os EUA?
Duffy - Mudamos porque a Inglaterra é um país deprimente e os EUA deram uma boa acolhida aos nossos discos. Mas não preciso de um país para viver, só de um cartão de crédito.
Folha - A nova formação traz o baixista Graig Adams, ex-Sisters of Mercy. É uma nostalgia da era gótica do Southern Death Cult (primeiro nome do Cult)?
Duffy - Nunca fomos góticos de verdade. Nem o próprio Sisters of Mercy — era inspirado por Iggy Pop, MC5 e Rolling Stones, como qualquer banda de rock'n'roll.

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