São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 1995
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Escolas desqualificadas; Pedra Furada; Reforma da Previdência; Câmbio e nhenhenhém; Direito de morrer; Brasil ausente; Casa da Mãe Joana; Crime hediondo

Escolas desqualificadas
"O Ministério da Educação anuncia exames de final de curso para concessão de licença para o exercício efetivo das profissões de médico e dentista. O objetivo é estabelecer um critério de seleção e qualificação do profissional e, de quebra, identificar os cursos de má qualidade. Ora, se a intenção é descobrir as escolas sem padrão, não é preciso punir o cidadão que teve o azar de estudar numa faculdade que deveria prestar e não presta. Mesmo porque, para funcionar, tanto a boa como a má escola precisam de autorização do MEC. Parece injusto que um recém-formado que disputou uma vaga num concorridíssimo curso de medicina ou de odontologia, dedicou anos de estudo acreditando estar recebendo orientação adequada, seja punido porque sua escola foi mal fiscalizada e não deu o ensino que deveria dar. Na área da medicina, são sobejamente conhecidas as escolas desqualificadas, insistentemente denunciadas ao governo e, apesar disso, ainda abertas e enganando centenas de estudantes."
Mario da Costa Cardoso Filho, presidente da Associação Médica Brasileira (São Paulo, SP)

Pedra Furada
"Li carta assinada por Walter Neves e Eduardo Neves (Painel do Leitor, 29/01). Pelo teor da carta não a responderia, mas ambos fazem questão de indicar suas filiações institucionais, e então desejo saber se o primeiro fala em nome da Associação Latino-Americana de Antropologia Biológica. Para fazê-lo, deveria existir uma resolução dos membros, devidamente consignada em ata. No que se refere a Eduardo Neves, é curioso que assine esta carta, pois a USP tem um convênio de cooperação científica com a Fundação Museu do Homem Americano e pesquisadores do Museu de Arqueologia e Etnologia participam das pesquisas que se realizam em São Raimundo Nonato. Ressalto que falo em meu nome pessoal. É muito surpreendente que brasileiros tenham esperado o suposto ataque americano para tentarem denegrir o trabalho de pessoas que, em vez de passar sua vida criticando ou louvando o trabalho dos outros, pesquisam, buscam, realizam. Por que os signatários da carta, se estavam tão preocupados com a divulgação de nossas descobertas, não escreveram antes? Não quero discutir aqui o mérito do artigo dos colegas americanos. Mas realmente Walter e Eduardo Neves não leram o artigo de Adovasio, Dillehay e Meltzer. Fábio Parenti e eu recebemos o pré-print dos editores, com o convite para manifestar nossa opinião. Se existem divergências na interpretação dos achados, em nenhum momento se afirmou no artigo que não houve rigor metodológico nas pesquisas. Em minha declaração à Folha não disse que trabalhamos mal. Fizemos o melhor que se podia fazer na época (as escavações começaram em 1978 e terminaram em 1988). Hoje muitas técnicas novas permitem obter mais informações e é exatamente para isso que se conserva um testemunho. É inverídica a afirmação de que eu sozinha dirigi esses trabalhos. A Pedra Furada começou a ser escavada por Laurence Ogel, hoje chefe dos museus da Ardèche, na França. Em seguida eu assumi a direção, passando-a em 1987 à Fabio Parenti, que terminou a escavação, estudou os vestígios e redigiu uma tese de doutoramento. Sua defesa de tese foi muito concorrida e, pela sua importância, mereceu uma nota na revista 'Nature'. Seria de admirar que um júri composto por especialistas do mais alto renome mundial aceitasse um trabalho feito sem rigor metodológico."
Niéde Guidon, arqueóloga (São Raimundo Nonato, PI)

Reforma da Previdência
"O saneamento da Previdência está sendo feito do lado errado (na visão dos burocratas/economistas é o lado certo, porque não haverá reação), penalizando a pessoa física. É sabido e consabido que a quebra da Previdência é devido a causas bem determinadas: ao emprego da sua arrecadação para sanear outros setores do governo; ao não-recolhimento pelo Estado da sua parte na contribuição; à má gestão do dinheiro dentro da própria Previdência; às interferências políticas e de outras fontes de poder que impedem a cobrança das contribuições em atraso com as devidas correções. E a pessoa física sempre é quem paga a conta..."
Ruy Coelho de Barros (Cuiabá, MT)

"Enquanto estão sendo propostas medidas visando privatizar o seguro por acidente do trabalho, dentro do pacote social do governo, a Previdência vem acumulando prejuízos ao deixar de promover a devida ação regressiva contra aqueles que, por descumprirem normas de segurança e higiene do trabalho, contribuíram para a ocorrência de acidente ou moléstia profissional."
Valdecirio Teles Veras (Santo André, SP)

"Alterando as regras previdenciárias para os que contribuíram mais de 20 anos, o presidente FHC estará passando à história como o grande verdugo de nosso povo. Quem ingressou na Previdência realizou contrato tácito, prevendo recolhimento e prazo para o benefício. Mudá-lo no meio do caminho seria um grande calote."
Marco Antonio Vilas Boas (Botelhos, MG)

Câmbio e nhenhenhém
"É fácil 'profetizar' sobre o acontecido, especialidade de vários economistas (bom dia, professor Delfim!). Mais difícil é, pela somatória de dados e indícios aliada à acurada percepção dos mercados nacional e internacional, que alguns analistas bem preparados não tenham percebido que ao governo brasileiro era questão de 'timing' as alterações no mercado de câmbio. O resto é nhenhenhém..."
Alcer Lima de Abreu (Ribeirão Preto, SP)

Direito de morrer
"Gostaria de manifestar minha opinião sobre a matéria da Folha de 4/03, 'Psicólogo de Campinas tenta na Justiça autorização para morrer'. Respeito o direito de qualquer pessoa que queira pôr fim à sua vida. Não posso concordar com o sr. Fernando quando ele coloca como motivo para sua morte o fato de estar com uma deficiência física. Seus motivos já deveriam existir antes da deficiência. Dezenas de milhares de pessoas são portadoras de deficiências iguais ou até mais graves que a dele e não fogem da vida. Pelo contrário, procuram, apesar de todas as barreiras que a nossa sociedade nos impõe, participar da vida e lutar para que seus direitos e o de milhões de portadores de deficiência do país sejam respeitados, para que tenhamos participação em igualdades de condições."
Rui Bianchi do Nascimento (São Paulo, SP)

Brasil ausente
"Em recente visita a Santo Domingo, República Dominicana, visitei o Farol de Colombo, um monumento inaugurado em 1992 para as comemorações dos 500 anos do descobrimento da América. No interior desse prédio encontram-se espaços reservados para outros países mostrarem um pouco de sua cultura e de sua arte. Surpreendentemente, o pequeno espaço reservado ao Brasil está vazio."
Luiz Tanamati Jr. (São Paulo, SP)

Casa da Mãe Joana
"Dona Francisca Joana de Lacerda Castelo Branco, marquesa de Itaguaí, merece mais respeito em nome dos seus descendentes e monarquistas. Estude um pouco mais a nossa história, presidente Fernando Henrique."
Bernardo José Castelo Branco (São Paulo, SP)

Crime hediondo
"Até quando a sociedade brasileira deverá pagar pelos crimes hediondos cometidos por monstros e desequilibrados, como aquele que ceifou a vida da srta. Alice Christiensen?"
Julio Rodrigues (São Paulo, SP)

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