São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Acordo prevê "gatilho" para metalúrgicos

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os metalúrgicos de São Paulo da base da Força Sindical fecharam o primeiro acordo desde a implantação do real que prevê indexação dos salários à inflação.
Pelo acordo, firmado com a Lorenzetti, o "gatilho" vai disparar para reajustar o salário dos cerca de 2.000 funcionários da empresa toda a vez que a inflação acumular 7% ou mais a partir deste mês.
O que ultrapassar 7% ficará acumulado para o próximo reajuste. Por enquanto, o índice a ser utilizado é o IPC-r.
Por exemplo, se a inflação de março, abril e maio acumular 8%, os funcionários da empresa recebem 7%. O restante passa a acumular com a inflação dos meses seguintes até somar outros 7%.
A informação é de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e diretor da Força.
O acordo, segundo ele, prevê ainda antecipação de 8,36% sobre os salários de fevereiro.
Os funcionários com salários até R$ 500 (60% do total na Lorenzetti, segundo Paulinho) recebem ainda 2,44% de aumento real.
Os funcionários com salários superiores a R$ 1.300 (3% do total) recebem 5% de antecipação agora e mais duas parcelas: 1,59% em maio e 1,59% em abril.
As antecipações e aumento real previstos no acordo são para repor as perdas desde a última data-base da categoria, em novembro, e não serão descontados do "gatilho".
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo não considera que o "gatilho" signifique "indexação salarial".
Segundo Paulinho, "o acordo só significa que, se houver inflação, ela será repassada aos salários, o que é natural para que o trabalhador não perca poder de compra".
Paulinho disse esperar não ter de receber o gatilho. "Se o governo conseguir segurar a inflação, isso não será necessário."
O "gatilho" salarial foi a política salarial vigente no Brasil entre o Plano Cruzado —março de 86— e o Plano Bresser —julho de 87. Na época, a inflação era repassada aos salários quando atingia 20%.
Os metalúrgicos fecharam ontem também acordo com o grupo 10 da Fiesp (Lampadas, Estamparias de Metais e Reparação de Veículos), que emprega 184 mil trabalhadores da base da Força Sindical, e com o Siescomet (sindicato patronal de esquadrias metálicas), com cerca de 20 mil trabalhadores.
Os acordos prevêem antecipação de 5% a ser paga em março mas calculada sobre fevereiro.
Na sexta-feira, os metalúrgicos da Força já haviam fechado acordo semelhante com o grupo 19-3 da Fiesp (eletroeletrônicos e máquinas), com 400 mil trabalhadores. A Lorenzetti, parte desse grupo, resolveu conceder mais.
Hoje os trabalhadores devem, segundo Paulinho, acertar os 5% com o Sifesp (fundição), cujas empresas filiadas empregam 18 mil metalúrgicos da base da Força.
Falta fechar acordo com os setores de autopeças, forjaria, parafusos e montadoras de veículos, que empregam cerca de 178 mil metalúrgicos da Força Sindical.
"Estamos observando as negociações com os metalúrgicos da CUT no Estado, como os do ABC, que por enquanto têm data-base em abril", disse Paulinho.

Texto Anterior: Jobim tenta sufocar revolta no PMDB
Próximo Texto: Portuários mantêm greve em Recife
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.