São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 1995
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Dez anos de espera

JANIO DE FREITAS

Há dez anos, nesta data de 15 de março, o Brasil se dividia entre o sobressalto e o alívio esperançoso. O depositário das expectativas mais otimistas, recolhido a inesperado leito hospitalar, não podia empossar-se na Presidência, mas os 21 anos de regime militar chegavam ao fim e o regime civil faria a redenção do país. Iniciava-se o ciclo das redenções, ainda inacabado.
Ao fim de três anos e meio de frustrações com o governo Sarney, a expectativa da redenção reanimava-se com a Constituição "Cidadã". Mas já no ano seguinte o início da redenção era adiado para 15 de março de 90, quando a posse de Collor introduziria o Brasil no moralidade e na modernidade administrativa, econômica e social. Passados dois anos e meio, em setembro de 92 a tarefa de iniciar a redenção era depositada em Itamar Franco. Apenas dois meses e meio antes do décimo do regime civil, Fernando Henrique assumia com a promessa de efetivar a redenção pela justiça social e pela moralidade e modernidade administrativas.
É muito sugestivo que não se tenham providenciado celebrações nacionais no dia de hoje. Quem está no Poder não são só os que foram oposição de 64 a 85, mas também os protagonistas do regime militar que permaneceram na política. Para os que compõem a minoria economicamente bem servida, a mudança de um regime para outro não trouxe inovações materiais, nem era necessário trazê-las. Para a grande massa dos demais, o empobrecimento crescente, a desassistência crescente à saúde e à educação, a crescente perda de poder aquisitivo dos salários, a falta crescente de oportunidades e perspectivas não sombrias, configurando um quadro de crescente violência múltipla, para estes não haveria o que comemorar. O regime civil deu-lhes a continuidade progressiva do que o regime militar lhes dera.
A classe alta e a classe média bem poderiam celebrar, no entanto, a sua maior liberdade e o reconhecimento dos seus direitos humanos, ainda não estendidos a uns dois terços da população. E não lhes custaria celebrar, também, que nas duas oportunidades de eleição presidencial tenha entregue o Poder ao candidato de sua preferência, o que lhes permitiu preservar, por meios aparentemente civilizados, a proteção de seu tranquilo convívio com as discriminações e as desigualdades.
Se um país existe em razão do seu povo, a frase posta pelo general Octavio Costa na boca do general Médici definiu o regime militar: "O país vai bem, mas o povo vai mal". E a paródia da frase define o regime civil: "O país vai bem, mas o povo vai pior".
Contestações
O ministro José Serra nega que tenha exposto ao ministro Adib Jatene, como aqui foi publicado ontem, os seus argumentos favoráveis à Medida Provisória 935, da qual o presidente Fernando Henrique já recuou. Sua exposição, disse, foi ao ministro Reinhold Stephanes.
Por sua vez, o porta-voz da Presidência, Sérgio Amaral, negou que o ministro Jatene tenha pedido demissão. Negou o que não foi afirmado aqui, mas em outro jornal. Aqui foi publicado que ele ameaçou se demitir, o que o ministro não negou ao falar a repórteres no sábado, em São Paulo. Sua frase, ao que tenho notícia, foi esta: "Com essa medida provisória não tenho condições de continuar no governo" (ou no ministério, talvez).

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