São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 1995
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Dossiê diz que 500 mil menores se prostituem

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

James Cavallaro, que preside no Brasil a organização de direitos humanos Human Rights Watch, envia amanhã ao presidente Fernando Henrique Cardoso um documento bombástico. O órgão atesta, em 58 páginas, que haveria no Brasil um exército de 500 mil menores de idade vivendo da prostituição.
O lançamento do documento, ao qual a Folha teve acesso com exclusividade, ocorre amanhã, às 13h, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (centro de São Paulo).
A Human Rights Watch sustenta no dossiê que a violência tem crescido indiscriminadamente em todo o país, nas mais diversas modalidades.
Por exemplo: no primeiro semestre de 1994 cresceu em 94% o assassinato de menores no Estado de Pernambuco e em 16% no Rio de Janeiro.
Segundo a entidade de direitos humanos, a vida no campo também está cada vez mais sujeita à violência.
Diz a Human Rights Watch que a cada ano dobra no Brasil o número de pessoas envolvidas em crimes ligados à disputa de terras (cerca de 250 mil por ano). E que a média anual de pessoas submetidas a trabalho escravo, no campo, chega a 19 mil.
"Este relatório revela que a situação de direitos humanos no Brasil está e vai continuar precária por muito tempo", diz Nancy Cardia, 47, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo), órgão que colaborou na elaboração do dossiê.
"O relatório mostra que o Brasil vive num círculo perverso, ou seja, a própria população não fica indignada com as precárias condições em que vive", avalia Nancy Cardia.
Tráfico de crianças
Diz a Human Rights Watch que, em todo o Brasil, um grupo de 62 crianças, somente no sul do país, foi "traficado" (vendido) para o exterior. E que qualquer pessoa que se aventure a matar índios "ficará impune" de investigações judiciais.
Na cidade de Xinguara, no Estado do Amazonas, ainda estaria circulando uma lista de pessoas a serem mortas por grupos paramilitares.
As vítimas escolhidas seriam membros da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O documento sustenta que o governo só demarcou 260 das 519 áreas indígenas previstas pela Constituição de 1988, déficit que estaria colaborando para o aumento da violência na floresta.
Sustenta a organização que esquadrões de extermínio continuam atuando no país. O destaque fica para o grupo paramilitar "Missão" que, segundo a entidade, matou "quase uma centena de pessoas", no ano passado, somente no Estado de Sergipe.
Colômbia
O Brasil, apesar de deter estatísticas crescentes de violência urbana e rural, não é o país que mais preocupa a organização.
O dossiê também elenca os países latino-americanos em que a situação dos direitos humanos se revelou muito mais crítica do que a brasileira.
O destaque fica para a Colômbia, onde, em 94, 123 sindicalistas foram mortos, 221 pessoas foram sequestradas pela guerrilha e 177, fuziladas pela polícia.
Peru
No Peru, segundo Human Rights Watch, somente em 1994 começaram a surgir investigações sobre 4 mil pessoas, desde o início da década de 90. E, no Chile, divulgou-se no ano passado que chegou a 3.129 o número de pessoas "exterminadas" desde 1991.

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