São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 1995
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Corinthians e Santos fazem jogo das águas

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

As águas rolaram esse encontro entre Corinthians e Santos para um momento especial das duas equipes. O Corinthians, depois de deslumbrar com animadoras goleadas, há duas rodadas vem marcando passo, o que provocou críticas ao time e respostas azedas de Mário Sérgio, que, por trás daquelas tiradas marotas, esconde um pavio ínfimo.
O Santos vem incólume, com graça e serena objetividade, como se incorporasse o perfil futebolístico de seu técnico, Joãozinho, revelação no ofício.
Mário tem razão quando diz que não pode cobrar esquema tático de um time mutilada a cada jogo por expulsões. Quando conseguiu ir inteiro até o fim, deu um show de gols na Ponte e no Araçatuba. Só não me convence quando joga a culpa das defecções de sua equipe sobre a falta de critério dos árbitros. Que eles não obedecem um critério comum é inegável. Mas isso vale para todos. Por que, então, só o Corinthians seria a vítima?
Talvez, porque Mário exerça forte liderança sobre seus comandados. E esteja enfatizando demais a combatividade da equipe. Malandro velho, sabe que, às vezes, os súditos acabam sendo mais realistas que o rei.
Pegue-se Vítor como exemplo. Desprezado pelo São Paulo, esse moço quer dar a volta por cima no Corinthians. Como é um lateral diferenciado, Mário conferiu-lhe importância tática tal que o obrigou a mexer no posicionamento das duas estrelas do time: Marcelinho e Viola. Traduzindo: para que Vítor possa atropelar pela direita, desviou Marcelinho para a meia-direita, avançando Viola. Ora, Viola, por sua compleição física, combate mais no meio-campo do que Marcelinho. Ao ver fragilizado seu meio-campo, Mário teve de sacar Marques, um goleador que é a menina dos olhos da Fiel e nome constante nas listas do Zagallo, colocando um meio-campo mais combativo, tipo Marcelinho Souza ou André.
Ora, tão profundas alterações haveriam de tocar a sensibilidade dos jogadores e da torcida, para não falar da crítica. Além do fato de que Vítor, instável emocionalmente, talvez não tenha estrutura para assumir tamanha importância tática. No tricolor ele tinha as mesmas funções. Mas, no Morumbi, qualquer lateral cumpria esse papel, naturalmente, pois a formação do ataque e do meio-campo, pelas características dos seus jogadores, se ajustava perfeitamente ao esquema.
Quem sabe, não esteja aí a raiz das frequentes expulsões de Vítor e não na falta de critério dos juízes?
Caso contrário, se esse é um comportamento habitual do jogador, melhor não seria voltar com Marques, Viola fazendo a ligação do meio-campo ao ataque, Marcelinho mais aberto, atento apenas às descidas de Vítor, e tratar, taticamente, o lateral como um jogador, comum, assim como seus eventuais substitutos? Mário é, antes de tudo, um sujeito inteligente. Portanto, capaz de refletir sobre o assunto, se é que já não o fez.

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