São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 1995
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Especialistas condenam 'cooper' nas ruas

DA REPORTAGEM LOCAL

Os paulistanos que correm nas ruas e avenidas da cidade enfrentam, além do trânsito perigoso, sérios riscos à saúde. A opinião é de especialistas ouvidos pela Folha.
Os "street joggers" que mais se arriscam são os que se aventuram pelas vias de maior movimento, como as Marginais, onde é maior a concentração de poluentes.
"Deve-se evitar, de qualquer maneira, essas avenidas", diz Paulo Hilário Saldiva, professor de patologia respiratória da Faculdade de Medicina da USP.
Saldiva enumera as consequências da inalação de poluentes: 1) a resistência do organismo é reduzida, tornando a pessoa mais sujeita a doenças como gripe; 2) corre-se o risco de pegar doenças respiratória; 3) pessoas com problemas do coração ficam mais propensas a ter arritmias ou ataques cardíacos.
O preparador físico Nuno Cobra, que durante anos foi o responsável pelo treinamento físico de Ayrton Senna, acha que "é melhor virar um sedentário do que correr em grandes avenidas."
Para Mário Hata, professor de atletismo da USP, "correr em um ambiente muito poluído traz mais prejuízos do que benefícios." Além da poluição, Hata alerta para o perigo de se ter uma contusão, provocada pelo piso muito rígido (o asfalto) e eventuais buracos.
O que mais motiva os "street joggers", especialmente os que fazem grandes distâncias, é a paisagem movimentada das ruas e avenidas.
Para o advogado José Antônio Rodrigues, 45, "é muito chato ficar dando voltinhas dentro de um parque." Rodrigues corre, em dias alternados, cerca de 15 km nas ruas da zona leste. Parte do trajeto é feita na avenida Salim Farah Maluf e na Marginal Tietê.
"O dia que respirar ar puro, vou ter um treco", brinca. Ele tenta compensar eventuais danos provocados pela poluição através de uma vida regrada. "Não fumo, não bebo e sou vegetariano."
O ator Taumaturgo Ferreira, 39, também optou por correr entre os carros por causa da "paisagem mais variada". Ele corre pelo menos três vezes por semana nas ruas da cidade.
Vai da sua casa, em Pinheiros, até a casa da sua mãe, em Moema. Passa por avenidas movimentadas, como a República do Líbano. "Mas vou bem devagar. Às vezes paro, tomo um coco gelado. Sei dos riscos."
Para evitar a poluição, Carla D'Alesssio, 21, enfrenta ruas e avenidas apenas nos fins-de-semana. Com um grupo de amigos, percorre mais de 20 km, durante cerca de 2 horas, em avenidas como a Juscelino Kubitschek e a Marginal Pinheiros.
"Nesses dias a cidade fica vazia. Parece um parque. Durante a semana, prefiro frequentar meu clube", afirma.

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