São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 1995
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A Indy é um "novo circo" verde-amarelo

MIGUEL JORGE
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Na ponta, Emerson Fittipaldi, seguido por Maurício Gugelmim...
...André Ribeiro aparece em sexto, enquanto Christian Fittipaldi e Raul Boesel brigam pela nona posição. Gil de Ferran vem fazendo uma corrida de recuperação ao lado de Marco Greco"...
Um espectador desavisado que ouvisse na TV esses nomes poderia pensar que se trata de uma prova tupiniquim em Interlagos ou Guaporé. Na realidade é um novo "circo", verde-amarelo, que tomou conta da Indy.
A Indy até pouco tempo era praticamente desconhecida dos brasileiros. Soava como mais uma excentricidade americana. Mesmo a presença de Emerson Fittipaldi não provocava muita atenção, a não ser nas famosas Mil Milhas de Indianápolis e seu US$ 1 milhão. Ao contrário, a F-1, com suas máquinas sofisticadas, sempre foi a coqueluche dos gasolineiros europeus e da América do Sul.
Há muito tempo, corrida de automóvel deixou de ser esporte. Transformou-se em espetáculo de milhões de dólares, business. Os norte-americanos sempre ignoraram a F-1. Os jornais limitam-se a publicar resultados em três, quatro linhas, naquelas famosas seções "Esportes pelo Mundo". Mas, quando se trata de Indy...
As corridas se transformaram em espetáculos de charme e requinte, onde não faltam ampla publicidade, mulheres bonitas, cenários exóticos (como uma pista de aviação), nomes hollywodianos, como Paul Newman (que é até proprietário de escuderia).
Para a indústria automobilística, não resta dúvida que a Fórmula 1 ainda é seu verdadeiro laboratório de pista. Muitas das tecnologias desenvolvidas para os bólidos estão hoje em carros de série. Injeção eletrônica, suspensão ativa, câmbio automático são apenas alguns exemplos. Para se ter uma idéia, um F-1 custa cerca de US$ 6 milhões contra apenas US$ 600 mil de um Indy. E enquanto na F-1 nada menos do que oito marcas colocam seus experimentos nas pistas, na Indy apenas três fazem o mesmo.
Como competição, a Indy leva vantagem. Afinal, carros iguais, os pilotos têm as mesmas chances. Isso, mais as bandeiras amarelas, os circuitos ovais, o longo pit-stop, acabam transformando cada prova num verdadeiro espetáculo, onde o grande vencedor é o piloto e a equipe, não a máquina. Na F-1, ao contrário, antes mesmo de o campeonato começar, já se sabe que o título vai ficar entre três ou quatro pilotos.
É justamente quando a F-1 já não apresenta tantos gênios do volante como antigamente que a Indy aguça suas garras. Tenta conquistar todos os continentes e a presença de sete brasileiros na categoria, deverá, inevitavelmente, trazer uma dessas provas para o Brasil.
Sempre haverá espetáculo, independente do nível dos artistas que estão no palco. A não ser que surja um novo Ayrton Senna, em qualquer das categorias. Mas, felizmente, Senna e Pelé são milagres que não acontecem todos os dias.

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