São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morte do filho de Menem pára campanha

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

A morte de Carlos Facundo Menem, 26, provocou uma trégua na campanha eleitoral argentina. O filho do presidente Carlos Menem foi enterrado ontem numa rápida cerimônia muçulmana. Os candidatos de oposição suspenderam a campanha até a próxima semana.
Menem Júnior, nome que adotou após a posse do pai em 1989, morreu anteontem em acidente com o helicóptero que pilotava.
Investigações policiais e do Ministério da Aeronáutica indicam que ele conduzia com imprudência e chegou a voar a pouco mais de 2 m de altura sobre rodovia que liga Buenos Aires a Rosário.
Existem suspeitas de que o helicóptero caiu, após bater em fios de alta tensão, porque ele teria apostado corrida com um amigo que dirigia um carro Nissan.
A polícia está tomando depoimentos de testemunhas do acidente. O filho do presidente pilotava um helicóptero monomotor Bell 206 B-3 Jet Ranger, avaliado em mais de US$ 1 milhão.
Menem Júnior comprou o helicóptero em 1993. Ele era adepto da velocidade. Pilotava carros, motos, lanchas e helicópteros.
O corpo de Menem Júnior foi velado das 23h de quarta-feira até as 12h de ontem, na Quinta Presidencial de Olivos.
Artistas populares, jogadores de futebol, estrelas da televisão e adversários de Menem na eleição de 14 de maio passaram por Olivos.
Diego Maradona e sua mulher, Claudia, a estrela do canal de TV Telefé, Susana Giménez, a empresária Amalia Lacroze de Fortabat, uma das cinco pessoas mais ricas da Argentina, a atriz Moria Casan e a tenista Gabriela Sabatini estiveram no velório.
Os candidatos a presidente pela Frepaso (Frente País Solidário), José Octavio Bordón, e pela UCR (União Cívica Radical), Horacio Massaccesi, foram até Olivos para dar condolências a Menem.
Ambos interromperam a campanha até a próxima semana.
Antes de o corpo de Menem Júnior ir para Olivos, ele ficou uma hora no Centro Islâmico de Buenos Aires para cerimônia religiosa pedida pela mãe, Zulema Yoma.
Quatro anos depois de ter sido expulsa por Menem de Olivos, Zulema voltou ontem à Quinta Presidencial para velar o filho.
O presidente aceitou que o filho fosse enterrado no jazigo da família da mulher, no Cemitério Islâmico de San Justo (Buenos Aires).
Mais de 10 mil pessoas assistiram à passagem do cortejo fúnebre de Olivos ao cemitério, composto por 22 automóveis Mercedes-Benz brancos ou creme.
O vice-presidente Marco Maciel representou o presidente Fernando Henrique Cardoso.
"O presidente Menem está muito traumatizado. Eu diria que está transtornado. É um pai que perde o filho e um político que vê desaparecer seu sucessor", disse Maciel.
A última namorada de Menem Júnior, a carioca Leila Schuster, Miss Brasil 94, chegou ontem a tempo de ir ao enterro. Deu várias entrevistas para rádio e TV.
"Ele era uma homem muito sensível e romântico. Conversamos por telefone na semana passada. Ele sofria muito por causa da separação do pai e da mãe", disse.
Menem não conseguiu segurar o choro durante a rápida cerimônia religiosa no Cemitério Islâmico. De acordo com o secretário-geral da Presidência da República, Eduardo Bauzá, ele somente voltará ao trabalho na segunda-feira.
Menem Júnior foi enterrado com a cabeça em direção a Meca, cidade sagrada para os muçulmanos. Sacerdote muçulmano citou trechos do Alcorão em árabe, numa cerimônia de 15 minutos.
Uma parte do ritual muçulmano de banhar os mortos não foi feita com o filho do presidente. Por causa das múltiplas fraturas expostas, que impediram que o caixão fosse aberto, o corpo não pôde ser lavado pelo sacerdote muçulmano.

Texto Anterior: PLANETA FASHION
Próximo Texto: Venezuela desloca tropas para fronteira
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.