São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 1995
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Restrições à importação

O anúncio de medidas que visam a restringir as importações é uma resposta correta aos déficits comerciais dos últimos quatro meses. Desde a deflagração da crise mexicana, saíram da América Latina parte dos recursos financeiros que até então afluíam para a região.
No Brasil, o déficit total, incluídos o movimento financeiro e os contratos de exportação e importação foi de US$ 4,57 bilhões só este ano. A isso somam-se os pagamentos externos do Tesouro, estimados em cerca de US$ 7 bilhões desde setembro. E, lamentavelmente, as saídas de capital persistem.
Nessas condições, todos os esforços do governo para reverter o déficit comercial só podem ser bem-vindos. As reservas em divisas de que o Brasil dispõe distanciam a possibilidade de uma crise no setor externo. Mas, no atual cenário internacional, seria extremamente temerário vê-las decrescer e pouco fazer para impedi-lo.
Graças a esforços de vários anos, o Brasil obteve vultosos superávits na balança comercial até 1994. Isso ajudou a compensar os pagamentos de juros e amortizações da dívida externa. A entrada de recursos financeiros iniciada em 1991 permitiu o crescimento das reservas do país. Superou-se a chamada crise da década de 80.
Hoje, porém, os fluxos financeiros se inverteram. E não parece possível manter o nível de importações previsto no início do Plano Real. As reservas ainda são altas, sem dúvida. Mas estima-se que cerca de US$ 15 bilhões já estejam comprometidos com os pagamentos de serviço e amortização da dívida externa neste ano. É evidente, portanto, a necessidade de recuperar rapidamente os superávits na balança comercial.
A demora na reversão do déficit traria, além das perdas em si, a possibilidade de que a incerteza continuasse a estimular a fuga de capital. Assim, o governo acerta ao reagir às condições adversas que se apresentam ao país. A condução da política econômica não pode ficar presa a projetos formulados em condições completamente diferentes da atual.

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