São Paulo, sábado, 18 de março de 1995
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Carioca é vice-campeão em problemas mentais

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

Os cariocas estão entre os campeões de problemas mentais, de acordo com o maior estudo em saúde mental já realizado no mundo. O resultado foi anunciado ontem pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que coordenou o trabalho.
O estudo revela que 24% das pessoas que procuram um clínico geral, além do problema do qual se queixam, sofrem também de algum tipo de distúrbio mental —como depressão, ansiedade, neurastenia, alcoolismo. No Rio, esse índice chegou a 35,5%.
Entre as 15 cidades pesquisadas, o Rio fica abaixo apenas dos 52,5% de Santiago do Chile. O estudo carioca foi feito no Hospital Universitário Pedro Ernesto.
O trabalho levou seis anos e custou cerca de US$ 20 milhões. Ao todo, 25.916 pessoas foram examinadas.
O objetivo da pesquisa, no entanto, não é fazer um campeonato mundial de doenças mentais, disse à Folha o brasileiro Jorge Alberto Costa e Silva, 52, diretor da Divisão de Doenças Mentais da OMS e um dos coordenadores do estudo.
A meta é mostrar que os clínicos gerais, em todo o mundo, devem ser preparados para identificar e tratar os problemas mentais dos pacientes e não apenas os sintomas físicos.
A situação atual é "preocupante", segundo David Goldberg, do Instituto de Psiquiatria de Londres.
Na média das 15 cidades, os médicos se mostraram capazes de detectar problemas mentais nos pacientes em 48,9% dos casos. Esse índice foi de 35,6% no Rio. Os médicos são melhores para detectar os problemas nos países em que o atendimento é mais personalizado, como na Europa e nos Estados Unidos.
Costa e Silva rebate a principal crítica ao estudo —a definição de problema mental seria vaga, variando em cada país. "A metodologia é irretocável", garante.
Os pesquisadores envolvidos receberam treinamento intensivo, para unificar a análise dos resultados. Graças a outro estudo da OMS, foi possível padronizar a definição das doenças mentais, segundo o brasileiro.
As disparidades entre as cidades parecem demonstrar que as diferenças culturais influenciam a saúde mental da população. "Ainda não compreendemos a razão", admitiu Michael Von Korff, do Centro para Estudos de Saúde de Seattle (noroeste dos EUA).

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