São Paulo, sábado, 18 de março de 1995
Próximo Texto | Índice

Lojas e fábricas acumulam estoques

FÁTIMA FERNANDES; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

A queda no consumo nos primeiros 15 dias de março pegou o comércio e a indústria no contrapé. Há casos em que o estoque acumulado chega a ser de 20% a 50% superior ao programado.
Taxa de juros alta e crédito apertado funcionaram como "ducha de água fria" no consumo, diz Oiram Corrêa, diretor de estudos econômicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
Empresários do varejo chegam a ver o movimento das suas lojas cair 20% na primeira quinzena de março sobre os 15 dias anteriores.
Um exemplo é a Cassia-Nahas, grande atacadista de tecidos e artigos de cama, mesa e banho. A Arezzo, fábrica e revenda de calçados, também viu o consumo cair neste mês. "Só conseguimos manter o ritmo de vendas por causa das promoções e dos lançamentos", afirma Anderson Birman, sócio-proprietário.
Correa conta que, tradicionalmente, em março, o faturamento real das lojas é 7% maior, em média, do que o de fevereiro. "Neste mês, se crescer, vai ser bem menos do que 7%. As vendas desaceleraram."
Para ele, alguns empresários da indústria e do comércio apostaram que o ritmo de vendas do final do ano se manteria neste primeiro trimestre. "Isso não aconteceu."
As medidas do governo para frear o consumo, diz Correa, funcionaram. Agora, afirma, os lojistas vão se limitar a repor só as mercadorias que realmente vendem e, se necessário, intensificar as promoções.
Já a indústria, afirma ele, vai ter que reavaliar planos de produção e, ao mesmo tempo, adotar estratégias para desova de estoques.
A Mallory, por exemplo, que fabrica eletroportáteis e componentes para eletrodomésticos, planeja cortar 10% a produção —de 1 milhão para 900 mil peças por mês— em abril.
É que a empresa acumula estoques equivalentes a cinco dias de produção e teme que eles subam rapidamente para 10 dias, se o ritmo de vendas ficar como está —"mais fraco."
"Não podemos carregar estoques com taxas de juros tão elevadas —de 4,5% a 6,5% ao mês", diz Marcel Vanden Bussche, diretor-presidente.
A Modelar, que tem 26 lojas especializadas em eletroeletrônicos e móveis no interior de São Paulo e Minas Gerais, é outra que sente os efeitos da queda no consumo.
Essa rede de lojas está com estoque 30% acima da média, diz César Ianazo, supervisor. Segundo ele, a sobra de produtos se deve às vendas fracas em fevereiro.
Com isso, a Modelar está reavaliando o volume de encomendas da indústria desde o início do mês.
Para desovar os produtos, ela fez até uma promoção no último sábado, com descontos de 23%, em média.
A Mafuz, com 53 lojas de eletrodomésticos e móveis espalhadas pelo interior de São Paulo, também acumula produtos nos seus armazéns.
"Temos estoques equivalentes a 40 dias de vendas. O normal varia de 25 a 30 dias", diz Antonio Mafuz, proprietário. Por causa disso, ele cortou 60% os pedidos para a indústria neste mês.
Mafuz conta que fevereiro foi "terrível" e que as vendas ficaram praticamente paradas na semana passada, assim que o governo subiu as taxas de juros para conter a corrida ao dólar.
Para reforçar o caixa, a Mafuz decidiu cortar de 8% a 12% os preços dos produtos. "E as vendas já estão reagindo."

Próximo Texto: Promoção evita queda maior
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.