São Paulo, sábado, 18 de março de 1995
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Cavallo nega risco de desvalorização cambial

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Economia da Argentina Domingo Cavallo disse ontem em São Paulo que "não há risco" de desvalorização cambial na Argentina e que se tivesse dinheiro para investir, "investiria no Brasil".
Cavallo afirmou que está usando "um canhão para matar uma pomba" ao explicar como pretende resolver os problemas da economia argentina em 1995.
O "canhão" são US$ 11,4 bilhões que o país quer levantar para cobrir o déficit de US$ 5,2 bilhões nas contas públicas previsto para este ano.
A Argentina já conseguiu US$ 5 bilhões junto ao FMI, BID e Bird, está lançando US$ 2 bilhões em bônus do Tesouro, espera conseguir outros US$ 2,4 bilhões com o novo pacote fiscal e outros US$ 2 bilhões com privatizações.
Os US$ 11,4 bilhões devem ser divididos assim: US$ 5,2 bilhões para cobrir o déficit; US$ 4,2 bilhões para capitalizar e privatizar bancos e empresas estatais (parte vai para capitalização de bancos privados); e US$ 2 bilhões para as reservas do Banco Central para "reforçar" o plano de convertibilidade —onde o governo garante a paridade de um peso para US$ 1.
"Estamos transformando a crise atual em oportunidade de fazer novas mudanças estruturais", disse.
O ministro argentino, que participou de seminário promovido pela Universidade de Harvard, disse que o sistema de banda cambial adotado pelo governo brasileiro "é um mecanismo corretivo que está sendo aplicado muito bem. Não pode ser identificado com uma forte desvalorização".
Cavallo afirmou que confia na estabilidade da economia brasileira, na "unidade e coerência" da equipe econômica e no crescimento do país.
Ele afirmou desconhecer detalhes das contas públicas do Brasil para avaliar se o país vai precisar no futuro de empréstimos externos, como o México e a Argentina. "Se precisar, o Brasil tem crédito", disse.
O ministro argentino disse que, apesar dos reflexos da crise mexicana, a inflação de março na Argentina deve ser negativa, as exportações cresceram 38% em janeiro e fevereiro e o país espera crescer entre 4% a 5% este ano.
Em duas oportunidades, Cavallo citou a "agilidade e confiança" dos políticos da Argentina no encaminhamento das reformas no país. "Apresentei as medidas fiscais na terça-feira e elas viraram lei na sexta", disse.
O ministro argentino afirmou que, apesar da crise mexicana, a Argentina não adotou como estratégia perseguir superávits na balança comercial. "O que desejamos é aumentar as exportações com ganhos de produtividade das empresas. As importações são bem vidas, especialmente de bens de capital". Cavallo considera o superávit comercial "um erro", "É como ficar investindo no exterior", disse.

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