São Paulo, sábado, 18 de março de 1995
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Desagravo ao bispo de Roraima

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Volta a ser discutida a questão da terra dos índios. Podem ser diferentes as perspectivas de análise do problema. Devemos, no entanto, respeitar a verdade dos fatos e evitar julgamentos sobre atuação de pessoas antes de comprovar as acusações. Infelizmente, em relação às terras indígenas de Roraima, há quem se permita, de modo gratuito e tendencioso, responsabilizar o bispo e missionários pelos conflitos existentes na área. Sinto o dever de esclarecer os acontecimentos.
1) Hoje, mais de 200 mil índios, no Brasil, unem-se para assegurar sua sobrevivência e cultura própria nas terras que a eles pertencem, conforme direito decorrente de ocupação imemorial. A Constituição de 1988 reconhece este direito e determinou a demarcação das terras como indispensável medida para preservar as áreas de invasões.
2) O direito à demarcação é, portanto, constitucional e nem deveria ser novamente colocado em debate, uma vez que a Lei Magna, ao estabelecer esse direito, atendeu a centenas de milhares de assinaturas recolhidas em todo o Brasil, solicitando a preservação das terras indígenas. Contínuas investidas junto ao Congresso surgem de grupos interessados na exploração de riquezas, sem considerar os direitos indígenas nem a conservação ecológica de tanto valor para o futuro da humanidade. O aproveitamento de jazidas, quando necessário, dependerá da aprovação do Congresso.
3) Em relação ao Estado de Roraima, o debate nestes dias atinge os povos makuxi, ingarikó, taurepang e wapixana em seu direito à terra conhecida como Raposa/Serra do Sol, cuja ocupação tradicional pelos índios foi comprovada pelo governo federal.
4) Difundiu-se, recentemente, a acusação de que o bispo de Roraima e os missionários são responsáveis pelos conflitos entre os índios e os ocupantes das terras. Esta notícia foi também levada ao ar no "Jornal Nacional" de emissora televisiva (8/03) repetindo as denúncias infundadas da Polícia Federal em base a afirmações de inquérito não-concluído.
5) É completamente falsa essa acusação, uma vez que a Igreja defende os direitos indígenas dentro da lei, excluindo qualquer incitação a conflitos que, aliás, já existiam antes da chegada dos missionários. O zelo e a dedicação de d. Aldo Mongiano, bispo de Roraima, e seus cooperadores são bem conhecidos e dignos de louvor e apoio.
6) Carta enviada pela CNBB à direção do "Jornal Nacional", pedindo retificação da notícia não foi atendida, sob alegação de que se tratava de mera informação, aguardando ainda decisão judicial. A presidência da CNBB, em bem da verdade, lamenta as falsas acusações difundidas e manifesta seu desagravo a d. Aldo Mongiano, aos religiosos e ao Conselho Indigenista Missionário.
7) Só a demarcação é garantia da terra indígena Raposo/Serra do Sol poderá pôr fim aos conflitos. Outras terras férteis e áreas de garimpo não faltarão no Estado de Roraima, para os que nelas, com direito, precisem trabalhar.
O tempo de Quaresma convoca-nos à conversão à luz do Evangelho, levando-nos a amar e promover a vida dos irmãos, incluindo os povos indígenas e a não julgar injustamente quem a eles se dedica.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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