São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Globalização cria crises instantâneas e transforma regras do mercado mundial

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA

JOSÉ ROBERTO CAMPOS; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 27/09/95
Diferentemente do que foi publicado à pág. 1-14 ( Brasil) da edição de 19/3, a Segunda Guerra Mundial começou em 1939, os EUA entraram na guerra em 1941, a Guerra dos Seis Dias foi em 1967, o presidente Richard Nixon (EUA) renuciou em 1974, Margaret Thatcher assumiu o poder no Reino Unido em 1979, o Muro de Berlim caiu em 1989, e o Iraque invadiu o Kuait em 1990.
7 de março de 1995, um dia típico do final do século: o dólar, moeda do maior império econômico do planeta, está sendo surrado pelo marco alemão e o ien japonês. Mergulha em sua menor cotação desde a Segunda Guerra Mundial.
A lira italiana e a peseta espanhola desabam, o governo francês sobe os juros. Os maiores Bancos Centrais do mundo se comunicam por telefone e discutem se despejam mais US$ 1 bilhão para acalmar o vendaval que, já àquela altura, derrubara a Bolsa de Tóquio, quando o Ocidente dormia e —passando por Nova York, Frankfurt e Londres— fazia vítimas no Brasil e na Argentina.
"Estes garotos podem acabar com um país de uma hora para a outra; é uma situação ridícula, na qual economias como as do México e Brasil ficam nas mãos de um grupo de pessoas ávidas por ganhar dinheiro", disse à Folha o professor George Lodge, da Universidade de Harvard, um dos maiores especialistas em globalização de mercados e ele mesmo um mestre dos jovens operadores.
Deu a louca no mundo? "Os mercados estão se tornando globais e estamos vendo isso com cores carregadas esses dias", acredita Susan Phillips, membro do mais seleto e poderoso grupo de decisão sobre as finanças mundiais, o FED, Banco Central dos EUA.
Imagine que todas as Bolsas de Valores do mundo são uma única Bolsa: na idade da globalização, as apostas são feitas simultaneamente em quatro continentes, on-line, e os jogadores sequer têm uma idéia precisa do dinheiro envolvido —simplesmente alguns trilhões de dólares.
Plugado a computadores em tempo real, um operador de Roma pode ver na hora os resultados de decisões tomadas segundos antes por outros investidores —saber, por exemplo, que às 11h da última sexta, as liras que tinha no bolso batiam em seu menor valor face ao marco desde 1945.
Uma situação que, para economistas respeitáveis como Roberto Campos, já exige a criação de mecanismos internacionais de monitoramento. Mas muitos não parecem se abalar com as reviravoltas. Não acreditam numa pane na engrenagem financeira mundial —como a que ocorreu com o "crash de 29" na Bolsa de Nova York.
"Não há nenhuma crise institucional, não haverá nenhuma crise definitiva", avalia Daniel Dantas, que dirige o Opportunity, uma rede de fundos de investidores estrangeiros que movimenta US$ 650 milhões. "O dólar caiu um pouco, mas ninguém teve ataque cardíaco", minimiza o economista norte-americano Rudiger Dornbusch, que falou à Folha do seu escritório no Massachusetts Institute of Technology.
Se a rapidez com que trilhões de dólares se movem para todos os lados assusta, impressiona ainda mais a possibilidade que eles têm de se multiplicar artificialmente. Dos investimentos tradicionais, nasceram os arriscados mercados de apostas paralelas —os chamados "derivativos" (veja à pág 18).
Foi neste jogo que um rapaz de 28 anos, Nicholas Leeson, quebrou um banco de 233 anos, o inglês Barings, que cacifou a previsão de que o índice da Bolsa de Tóquio subiria —e, coisa proibida neste mega-cassino planetário, errou.

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