São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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'Beberrão teen' fica agressivo e perde memória

DA REPORTAGEM LOCAL

Abuso de álcool pode ser identificado pelas perdas. O beberrão teen começa a perder a memória, a capacidade de concentração, os raciocínios abstratos, fica com mania de perseguição, agressivo.
Se não for tratado, só vai ganhar uma coisa na idade adulta: cirrose, uma das 350 doenças causadas ou agravadas pelo consumo abusivo de álcool.
É por causa dessas perdas que a escola vai se tornando insuportável. Dos oito adolescentes que abusam de álcool entrevistados pela Folha todos repetiram de ano pelo menos uma vez e acabaram abandonando a escola.
"Matemática era muito número para minha cabeça", resume Adriano G., 15, que bebia desde os 12 e parou há sete meses.
Repete-se de ano porque o adolescente perde a capacidade de associar. "Ele não consegue absorver dados novos, só raciocina com dados antigos, quando não os esquece", diz o psiquiatra Jorge Gomes de Figueiredo.
Não há uma medida padrão para se aferir quando um adolescente começa a ter problemas com bebidas. Cada organismo absorve álcool de uma maneira e os problemas podem aflorar com um copo de cerveja ou dez de vodca.
O melhor método para se detectar um alcoólatra em potencial, segundo os psiquiatras, é observar seu comportamento, principalmente a agressividade e a perda de memória.
O principal problema não é a dependência, quando o corpo exige álcool todos os dias, segundo Jair Mari, da Escola Paulista de Medicina: "É o descontrole. O adolescente já tem uma tendência a ser impulsivo e com o álcool acha que é onipotente, que nada acontecerá com ele."
No caso dos que se tornam dependentes, o problema é duplo. Os psiquiatras já não separam mais a dependência física da psicológica.
"O processo fisiológico é acompanhado de mudanças comportamentais: a pessoa fica obcecada, vive só em função da dose", explica Mari.
A última moda em pesquisas nos EUA associa essa necessidade de álcool a uma tendência genética: pais alcoólatras teriam filhos alcoólatras.
Psiquiatras recomendam cautela com a hipótese. Há indícios de que o alcoolismo tenha uma carga hereditária, mas as pesquisas sobre o tema ainda são incipientes.

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