São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Mulheres de 50 saem em busca de prazer

CAROLINA CHAGAS
DA REPORTAGEM LOCAL

As mulheres de 50 anos ou mais decidiram ir à luta, ou melhor, ao prazer. Carregam na bolsa preservativos e a vontade de redescobrir o sexo.
Nos anúncios classificados pessoais, já aparecem com destaque. No Classiline da Folha, elas representam 90% dos anúncios da seção "Pessoas de Mais de 50 Procuram Pessoas de Mais de 50".
Sem vergonha, querem novos companheiros e muitas buscam o prazer sexual que nunca tiveram (leia texto ao lado).
A contadora Heloísa Ricardi Almeida, 58, separada há 11 anos, aderiu à moda dos classificados pessoais.
Depois de ser "trocada" por uma universitária de 22 anos pelo marido, promotor público, Heloísa demorou três anos para se recompor. "Tinha feito curso de contabilidade antes de me casar, mas nunca tinha trabalhado fora."
No emprego, apareceu o primeiro namorado e o primeiro salário. "Eu me casei virgem e minha segunda experiência acabou sendo com meu chefe. Tive também uma sensação muito boa quando recebi meu primeiro holerite. Foi um dinheiro que não veio nem do meu pai nem do meu ex-marido."
Heloísa conta que frequenta —e não tem vergonha— os singles bares da cidade.
"Meu primeiro namoro foi breve. Depois não parei mais. Gosto de companhias divertidas, por isso anuncio em classificados e frequento bares onde posso arrumar boas paqueras. Mas não saio de casa sem preservativo na bolsa."
Segundo Marcos Roberto Ribeiro, 57, geriatra especializado em sexologia feminina, nos últimos cinco anos sua clientela aumentou muito.
"As cinquentonas dos anos 90 são muito bem informadas, estão preocupadas em ter sexo com prazer e com a boa saúde", afirma.
Boa informação e um companheiro são as atuais preocupações da carioca Ivone Coelho, 61, que todas as terças-feiras vem para São Paulo. Ela é uma das 42 "senhoras" inscritas na pós-graduação da Faculdade de Psicologia da USP.
"A parte que eu garanto sozinha vai bem obrigada. Termino minha tese no final do ano que vem porque estudo muito. Mas encontrar um homem disposto a um compromisso mais sério é complicado", diz.
Segundo Ivone, solteira, achar um "companheiro para uma noitada" é fácil. "Se você está com dinheiro, consegue até uns garotos na faixa dos 25 que querem se aprimorar sexualmente", diz. "Basta pagar um bom jantar, regado a uísque importado."
A dona-de-casa Noemia Andrade, 60, acha que vale a pena tentar. Ela ficou viúva em 85 e achou que, com a morte do marido, seu destino seria cuidar dos 12 netos.
"Para me distrair, passei a frequentar bailes para a terceira idade", conta. "Meu ex-marido era atrevidinho e eu tinha saudade de companhia na hora de dormir."
Foi entre uma valsa e outra que ela conheceu Armando Gumercindo, 62. "Acertamos bem os passos e acabamos no altar de novo."

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