São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Especialistas condenam a proibição de antidiarréicos

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem teve uma diarréia nos últimos meses enfrentou uma dificuldade adicional: encontrar um remédio para aliviar os sintomas.
Praticamente todas as medicações antidiarréicas —mesmo as que não foram proibidas pela portaria da Secretária de Vigilância Sanitária em setembro de 94— desapareceram das farmácias do país.
A portaria proibia a comercialização de quase todos os antidiarréicos para crianças e de vários tipos desses remédios para adultos.
A retirada dos antidiarréicos gerou polêmica. Muitos remédios considerados inócuos (sem efeito) são defendidos por especialistas.
Outros remédios que não estavam na lista e que sumiram "na onda" produzida pela portaria (leia texto ao lado) têm um papel importante no controle das diarréias infecciosas (agudas) e em algumas formas de diarréia crônica.
Schlioma Zaterka, chefe do grupo de estômago e duodeno da disciplina de gastroenterologia clínica do HC da USP, explica que alguns dos remédios "desaparecidos" são úteis em várias situações.
Segundo Zaterka, a maior parte das diarréias agudas são autolimitadas. O organismo consegue eliminar logo as bactérias, vírus ou toxinas que produziram a infecção.
Medidas simples como tomar líquidos em abundância, controlar a dieta e usar medicações para aliviar a febre ou as cólicas (dores abdominais) são suficientes.
Às vezes, a diarréia pode se prolongar. Nesses casos, antidiarréicos que contém derivados sintéticos do ópio (Imosec, Closecs, Lomotil) podem ser usados a partir do final do segundo dia.
A medicação diminui a motilidade intestinal (movimento de propulsão dos alimentos) e facilita a absorção de líquidos, tornando as fezes mais sólidas.
Para aliviar os sintomas e evitar a desidratação, durante viagem a local em que as condições de higiene são inadequadas, por exemplo, o turista pode usar os antidiarréicos como medida complementar, sem risco, por alguns dias.
Nos EUA, essa classe de antidiarréicos é vendida em supermercados sem necessidade de receita.
No Brasil, eles são vendidos em caixas com tarja vermelha, (venda sob prescrição médica). Na prática, qualquer um pode adquiri-los.
Nas diarréias crônicas, a pessoa apresenta ciclos repetidos de diarréia (três a quatro evacuações ao dia) durante vários meses. Segundo Zaterka, 50 a 60% das diarréias crônicas são funcionais (sem causa definida) e apresentam forte componente emocional. Os antidiarréicos conseguem controlar a diarréia enquanto a pessoa "aprende" a lidar melhor com seu problema.
Mesmo as diarréias crônicas de causa definida (deficiências enzimáticas ou distúrbios hormonais) melhoram com os antidiarréicos comuns enquanto o tratamento específico está sendo iniciado.

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