São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Dá para esquecer o dólar?

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A queda do dólar nos mercados internacionais vem chamando a atenção. De janeiro de 1994 a março deste ano, o dólar perdeu cerca de 20% de seu valor em relação à moeda japonesa (iene) e uma percentagem igual em relação ao marco alemão.
Ou seja, o turista feliz que voltou da Europa no começo de 1994, e guardou os marcos que sobraram em casa, hoje está 20% mais rico em dólares. Em compensação, quem guardou dólares em casa hoje está 20% mais pobre se precisar comprar bens ou viajar para a Europa e o Japão.
Na última quinta-feira, um dólar era trocado por 90 ienes ou por 1,40 marcos. Os leitores desta coluna poderão se lembrar que em julho do ano passado (24/07/94) fizemos este prognóstico neste espaço.
Registramos então: "Uma análise dos fundamentos mostra que ainda há pressão para que o dólar caia mais em relação ao iene e marco, para algo como 90 ienes." (Quem diz que a economista não acerta previsão?).
A recente queda de valor do dólar é motivada pelos mesmos fatores que estiveram em ação no primeiro semestre de 1994: um desequilíbrio grande e persistente na balança comercial americana, acrescido de uma saída volumosa de dólares para investir em mercados externos.
Com os mercados cambiais internacionais inundados em reservas e em créditos a receber em dólares, o preço das verdinhas ianques caiu.
Mas esta perda de valor do dólar vem de longe. Em 1968 um dólar era vendido por 4 marcos ou por 360 ienes. Ou seja, a moeda americana vale hoje apenas um quarto do que valia em ienes há 27 anos atrás e cerca de um terço do que valia em marcos.
O fato é que esta queda continuada do valor do dólar, a moeda na qual se mantêm cerca de 90% das reservas internacionais, está causando uma perda para todos os investidores, bancos centrais e demais mortais que possuem a moeda americana.
No entanto, como a economia norte-americana ainda é a mais forte e sua hegemonia militar nunca esteve tão inconteste, a principal moeda tanto para transações comerciais e financeiras quanto para o turismo é e continuará sendo o dólar. Pelo menos no futuro visível.
Mas também é possível prever que a circulação internacional do marco (e em menor grau do iene) deve crescer. Quem visita a Europa percebe que nos últimos anos o marco vem tomando um papel de referência cada vez mais forte para a cotação das moedas e preços europeus.
O mundo caminha para uma situação em que tanto o dólar, o marco e o iene irão dividir entre si os papéis de moeda de reserva e de lastro para os sistemas monetários nacionais. Mas se coordenar o sistema monetário internacional já é difícil, quando apenas uma moeda é usada para isto, o problema se complica quando existem três (sujeitas a três bancos centrais diferentes).
Estas tendências e os problemas em formação são percebidos pelos economistas dedicados a esta área. No entanto, como não há ainda nenhum problema agudo exigindo solução e mudar as regras monetárias seria um desafio grande, vamos continuar avançando em direção a uma nova ordem polimonetária.
O que o Brasil pode fazer diante deste quadro?
Primeiro, cabe ter realismo quanto ao nosso peso relativo no contexto externo. Segundo, podemos manter a atenção aos eventos e procurar consolidar grupos de analistas da economia internacional estudando as opções que irão se apresentando.
Resta lembrar que este é um campo em que não se deve improvisar.

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