São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Poupança rende 12 vezes a de americano

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

Poupança rende 12 vezes a de americano
Diferença entre Brasil e Estados Unidos sobe para 25,6 vezes se a comparação for feita com taxa de juros cobrada no crediário
A taxa anual do rendimento da caderneta de poupança do brasileiro é 12,5 vezes maior do que o norte-americano recebe por uma aplicação similar em Nova York ("saving accounts").
A distância dobra quando se comparam as taxas das compras a prazo de bens de consumo em geral financiadas pelas linhas bancárias de crédito direto ao consumidor: o brasileiro paga um juro anual 25,6 vezes maior do que o norte-americano. As taxas praticadas no mercado financeiro de São Paulo na quarta-feira passada, dia 15, foram anualizadas e comparadas com os juros médios no mercado de Nova York, apurados por uma pesquisa feita pelo Lloyds Bank, a pedido da Folha. O rendimento de 4,33% para os depósitos na poupança brasileira feitos no último dia 15, resgatáveis no prazo de 33 dias (17 de abril próximo), corresponde a uma taxa anual de 66,23%, ajustada para um prazo de 30 dias. Em Nova York, segundo Marcos Shalders, diretor regional da área de "Private Banking" do Lloys Bank, os bancos pagam uma taxa de 5,3% ao ano para uma aplicação similar com prazo de seis meses. Pode-se alegar que as taxas de juros embutem uma expectativa de inflação elevada, ao contrário do que ocorre nos EUA. Porém, mesmo descontando-se a inflação, a distância é expressiva.
As estimativas do mercado financeiro para a inflação média dos três principais índices (IPC-r, IGP-M e IPC-Fipe) estão em torno de 2% em março e 2,5% em abril. Mesmo admitindo-se que ela seja de 3%, o juro real (acima desse índice) embutido no rendimento de 4,33% da poupança é de 1,29% ao mês e de 16,64% ao ano, mais do que o triplo da taxa nominal de 5,3% ao ano paga ao norte-americano. A fuga de capitais internacionais desencadeada pelos desdobramentos da crise do México e da Argentina, associada ao aquecimento do consumo após o real, obrigou o governo a monitorar uma taxa de juros interna atrativa para os investidores estrangeiros.
A formação dessa taxa leva em conta que, ao aplicar em papéis brasileiros, o investidor estrangeiro terá uma remuneração acima da desvalorização cambial mais o juro internacional que compense o "risco Brasil". No leilão de títulos corrigidos pela variação do dólar (NBC-E), com prazo de três meses, realizado na quinta-feira passada, o Banco Central aceitou pagar uma taxa máxima de 16,04% ao ano.
Na avaliação de Alfredo Neves Penteado de Moraes, vice-presidente do Banco ABC-Roma, essa é a referência do governo. Descontando-se um juro internacional no patamar de 12% ao ano, o prêmio oferecido pelo "risco Brasil" estaria em torno de quatro pontos percentuais ao ano. Uma das diferenças é que, nos EUA, as taxas de juros são lineares e no Brasil são compostas (juros sobre juros, calculados por dias úteis, e não corridos, como lá).

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