São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Âncora estrutural

MARCOS CINTRA

Aparentemente, o governo saiu vitorioso no 1º "round" da nova política cambial. Resta saber por quanto tempo.
O Plano Real vem se utilizando apenas de âncoras de curto prazo, que logo se mostram incapazes de sustentar a estabilização.
O Real se diferenciou dos planos anteriores, mas manteve âncoras de curto prazo.
Inicialmente, tentou-se a âncora monetária. Em menos de dois meses, a expansão da oferta de moeda estourou os limites prefixados, enquanto as variáveis fiscais eram tensionadas por uma política expansionista de gastos públicos.
Em seguida, o governo cortou as amarras do controle monetário e agarrou-se à âncora cambial. Como sempre, os primeiros resultados foram, amplamente, satisfatórios. Em novembro, porém, surgiram as primeiras tensões, na forma de déficits comerciais crescentes. Veio a crise mexicana e o governo, mais uma vez, viu-se pendurado na brocha.
Âncoras de curto prazo não resolvem. São frágeis por duas razões. Em primeiro lugar, pelo represamento de algumas variáveis econômicas, que, mais cedo ou mais tarde, acabam fugindo do controle do governo. Em segundo lugar, porque carecem das âncoras estruturais, as únicas capazes de sustentar a estabilização a longo prazo.
O congelamento é típico. As tensões e desequilíbrios alastram-se e os preços logo explodem. O controle monetário não resiste à endogeneidade da oferta de moeda. A âncora cambial tem efeitos cancerígenos na balança de pagamentos, causando bolhas de consumismo e exportação de empregos. A âncora fiscal, também, encontra fortes resistências, a partir dos cortes de investimentos estatais, da deterioração dos serviços públicos e das crises sociais emergentes.
Deixo uma citação do Prêmio Nobel, James Buchanan: a macroeconomia convencional "desvia a atenção das questões de ordem institucional, deixando de fazer distinções fundamentais entre ordens econômicas alternativas".
Em resumo, sem reformas estruturais, não há âncora que resista.

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