São Paulo, domingo, 19 de março de 1995 |
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Procuram-se 237 mil vendedores autônomos
CARLA ARANHA SCHTRUK
O mercado de trabalho de vendas diretas deve crescer cerca de 25% este ano, segundo a Domus (Associação Brasileira de Empresas Vendedoras de Mercadorias e Revendedores a Domicílio). Isso significa que mais de 237 mil pessoas deverão ingressar na atividade, acumulando rendimentos mensais médios superiores a dois salários mínimos (veja várias oportunidades nesta página). Para se tornar um revendedor, é necessário ter no mínimo 18 anos e, quase sempre, adquirir um kit de produtos e manuais —um investimento que pode chegar a R$ 250. Cursos, treinamentos e palestras são oferecidos pelas empresas. Os clientes podem ser indicados pela própria empresa, casos do Círculo do Livro e da Natura. Nas outras, o sucesso do revendedor está intimamente ligado à dimensão de sua clientela. Esse é o principal motivo do sucesso de Rita Barbosa Medeiros, 63, uma das campeãs de vendas da Natura. Os lucros que obteve junto a seus 800 clientes, em 94, vão bancar mais uma viagem à Europa, programada para este ano. "Os lucros começam a aparecer já no segundo mês", garante Ana Marta Mancuso Luft, 28, revendedora da Avon há nove meses. O mais comum, no entanto, é que os rendimentos com a venda a domicílio sirvam como complemento do orçamento familiar. Segundo Silvio Zveibil, 38, gerente de vendas da Avon, seu "exército" de 350 mil revendedoras é formado basicamente por mulheres casadas ou com outra atividade profissional. Na Tupperware, mais da metade das 45 mil cadastradas se encaixa nesse perfil. O motivo é simples. Poucos conseguem ultrapassar o nível médio de vendas. Na Tupperware, por exemplo, somente 1% dos revendedores ganha mais de R$ 3.000 mensais, segundo José Carvalho, 47, diretor de vendas. Na norte-americana Amway, outra peso pesado do setor, com 200 mil revendedores, apenas 1.500 pessoas, em média, conseguem atingir cifras como essa. "Nós aconselhamos que ninguém abandone o emprego por esse trabalho", alerta Michael Norris, 37, diretor de marketing. Para quem chega à posição de vendedor de primeira linha, há uma série de recompensas —sob a forma de prêmios e bonificações estipulados de acordo com o volume de vendas alcançado. Viagens ao exterior, eletrodomésticos e prêmios em dinheiro fazem parte do cardápio do programa de incentivo das empresas. O marketing de rede (leia texto ao lado), praticado por empresas que aboliram o esquema de venda porta a porta —como Amway, Max Training, Yves Rocher, Tupperware e Pierre Alexander—, promete rendimentos ainda maiores para quem consegue arrebanhar novos vendedores para a empresa. Nesse cenário, onde vence quem vende mais, histórias de fracasso não deixam de acontecer. Para a empregada doméstica Marilena da Silva, 31, o período de um ano que passou como revendedora da Tupperware foi "frustrante". "As pessoas que eu procurava achavam a mercadoria cara", lamenta-se. Segundo José Macedo, os produtos da Tupperware, com garantia de duração de dez anos, são destinados a uma classe social elevada (A e B). O mesmo vale para a maioria das empresas que utilizam as vendas diretas. "Ter contato com pessoas das mesmas classes sociais às quais se destinam os produtos em questão é fundamental para o sucesso do empreendimento", diz o revendedor Carlos Alberto Martins, 47. Ele abandonou o cargo de gerente de um banco para engrossar, em tempo integral, o time de 10 mil revendedores da francesa Yves Rocher, que pretende recrutar ainda este ano mais 7.000 pessoas. Como Martins, Gilberto Aparecido, 28, é um dos poucos homens em uma atividade exercida majoritariamente por mulheres. Trabalhando oito horas ou mais por dia, ele consegue atingir um média salarial de R$ 2.500 mensais. Próximo Texto: Entenda o que é marketing de rede Índice |
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