São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Clinton pede US$ 1,2 bi contra narcotráfico

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente dos EUA, Bill Clinton, pretende pedir ao Congresso que no próximo ano adicione US$ 1,2 bilhão ao programa de combate às drogas nos EUA e países afetados pelo narcotráfico.
Pelo menos 77 milhões de norte-americanos admitem já ter feito uso de drogas.
Clinton pleiteia mais verbas para combatê-las também porque os EUA têm gasto, por ano, US$ 67 bilhões com médicos, sistema judiciário e aparato policial —todos envolvidos na cura, recuperação e punição dos dependentes. Essa quantia representa quase a metade da dívida externa brasileira.
As informações constam do documento anual, de 400 páginas, emitido pelo Departamento de Estado dos EUA e obtido com exclusividade pela Folha.
O documento elenca os sete países que mais têm colaborado para a entrada de drogas nos EUA: Brasil, Bolívia, Colômbia, Peru, México, Nigéria e África do Sul.
Pelo terceiro ano consecutivo o Brasil surge no relatório como o maior entreposto de que os cartéis colombianos têm feito uso para exportar cocaína.
Em documento anterior, o Departamento de Estado sustentava que o tráfico começou aumentar do Brasil para os EUA quando o Congresso "desviou atenções" para o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Os sete países citados são considerados fundamentais para entrada nos EUA, por ano, de US$ 50 bilhões em drogas.
Eis alguns números decorrentes disso: duas pessoas são presas com drogas a cada dois minutos; 500 mil emergências médicas são atendidas a cada ano; em 1994, pela primeira vez, o número de internos do sistema penal norte-americano ultrapassou 1 milhão; um terço dos casos de Aids estão ligados ao consumo de drogas.
A heroína e o ópio são os mais novos inimigos do programa de combate às drogas do governo norte-americano. O consumo dessas substâncias "cresceu dramaticamente desde 1968", relata o Departamento de Estado.
O consumo de heroína aumentou 43% nos EUA em 1994, se comparado com os níveis registrados em 1988. A Ásia detém 76% da produção mundial de heroína e a novidade fica, em 1994, para a América Latina. O continente surge como responsável por 15% da heroína produzida no mundo.
Com o cerco contra os cartéis da cocaína, como os de Medellín e Cali, a Colômbia agora esmera-se em plantar papoula, planta usada para a confecção da heroína.
O resultado é que cresceu em aproximadamente 800% a apreensão de porções da droga na Califórnia, a partir de vôos com origem em território colombiano.
Dois milhões de norte-americanos admitiram já ter consumido heroína, segundo a Pesquisa Nacional sobre Abuso de Drogas.
O número de usuários de drogas nos EUA caiu de 22,3 milhões, em 1985, para 11,7 milhões em 1993. Mas a heroína é a única droga cujo consumo permaneceu inalterado: desde 1988 os EUA têm entre a população um exército de 2,7 milhões de usuários de de drogas pesadas, 600 mil deles consumidores apenas de heroína.

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