São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Publicidade no governo Itamar; Números da prostituição; Rio, guerra pela cidadania; Soluções fáceis; Anjos do Asfalto; Questão nº 1

Publicidade no governo Itamar
"Por ter desempenhado as funções de chefe da Assessoria de Comunicação Institucional (ACI) da Presidência da República no governo Itamar Franco, sinto-me no dever moral de manifestar-me à propósito da matéria intitulada 'Itamar triplicou gastos de publicidade em 94', publicada nesse respeitado jornal no último dia 15/03. Esclareço que as decisões sobre o montante dos gastos em publicidade eram da inteira responsabilidade de cada órgão do governo, cabendo à ACI pronunciar-se sobre a forma e o conteúdo das mensagens veiculadas. Tenho, pois, a dizer o seguinte a respeito da matéria em questão: 1) algumas grandes empresas do governo, como a CEF, o Banco do Brasil e a Petrobrás ficaram muito tempo fora da mídia e, em consequência, estavam perdendo competitividade, justificando-se, portanto, no ano de 94, o esforço publicitário empreendido para a recuperação, por aquelas empresas, de espaços importantes do mercado; 2) muito embora ignorando os critérios adotados para a obtenção dos números da Folha, considero uma participação estimada em US$ 210 milhões, em um total de R$ 6,6 bilhões, uma cifra moderada, tendo em vista o peso do setor estatal na nossa economia; 3) os critérios de levantamento de preços da publicidade realizada apoiaram-se nas tabelas dos veículos, ou seja, no preço bruto, não tendo sido considerados os descontos normalmente concedidos nas negociações entre o anunciante e os órgãos da mídia; 4) pelo que se pode observar na tabela comparativa 1993-1994, aparecem despesas de veiculação por parte de vários ministérios, os quais na maioria dos casos recorreram à mídia gratuita de que dispõe o governo federal em cada emissora. Assim, tenho a impressão de que foram estimados gastos a partir de pesquisas que não focalizaram essa realidade; 5) registre-se, ainda, que 1993 foi um ano atípico, posto que em fins de 1992 o governo suspendeu as licitações e as campanhas de publicidade, em virtude dos acontecimentos que abalaram o país na época; 6) não se levaram em conta, tampouco, no cálculo do crescimento 93/94, os expressivos aumentos das tarifas dos veículos; 7) finalizando, considero inteiramente compreensível o investimento publicitário do governo em razão também da divulgação que se fez necessária para assegurar o esclarecimento didático e o êxito da mudança da moeda (real), da recuperação da auto-estima do povo e da confiança dos agentes econômicos nas instituições públicas do país. Vivia-se, como ainda vivemos, um momento decisivo de grande esforço de combate à inflação, de estabilização econômica e de retomada do crescimento."
Augusto Marzagão, chefe da Assessoria de Comunicação Institucional da Presidência da República no governo Itamar Franco (Rio de Janeiro, RJ)

Números da prostituição
"Não podemos nos omitir diante da reportagem publicada na Folha em 15/03 intitulada 'Prostituição atinge 500 mil menores'. A quantificação imprecisa, tomada como ponto de partida, obscurece a magnitude do problema e impede as ações de intervenção pertinentes. A partir do levantamento da produção sobre o tema prostituição infanto-juvenil no país, constatamos existir um consenso sobre a impossibilidade de quantificar-se o fenômeno, em nível nacional e até mesmo regional, seja em decorrência da própria ambiguidade conceitual do tema, seja pela camuflagem da rede delituosa que envolve essa atividade, seja pelo temor da menina em abrir-se face as ameaças à sua própria vida. O fato que se sobrepõe à magnitude dos números é, em si mesmo, a ocorrência de exploração sexual de crianças e adolescentes, de impossível precisão, e o que isso significa em termos de violação de direitos e de prática de delito pela rede 'invisível' que sustenta essa atividade."
Lucia Luiz Pinto e Maria de Fátima Wigliau, pesquisadoras do Departamento de Estudos do Centro Brasileiro para Infância e Adolescência (Rio de Janeiro, RJ)

Rio, guerra pela cidadania
"O governador do Rio, Marcello Alencar, determinou que a desaparelhada Polícia Militar do Estado ocupasse favelas e morros para combater a criminalidade. Cogita ainda convocar o Exército e repetir a Operação Rio. Melhor faria se ocupasse os morros e favelas com batalhões da saúde, da educação, do saneamento básico, enfim, com o exército da cidadania."
Sérgio Mário Seidi Sumi (Ribeirão Preto, SP)

"Enquanto Marcos Augusto Gonçalves reivindica em seu 'São Paulo City', de 15/03, condições de trânsito que 'permitam a continuidade da vida humana em condições mínimas de qualidade', a população carioca reivindica a simples continuidade da vida. A ameaça representada pelo banditismo onipresente ignora e atropela discussões formais e protocolos de acordo com Forças Armadas. A retirada prematura do Exército propiciou o recrudescimento feroz da violência."
Adolfo Gerbatin (Rio de Janeiro, RJ)

"Acabo de ver uma notícia de mais um PM assassinado no Rio, de outro com um braço amputado e de mais três rapazes atingidos por balas perdidas (16/03). O impressionante é que não li nenhum protesto dos 'gabeiras' da vida ou de nenhum arcebispo defensor de direitos humanos. Quando a polícia mata um assaltante, traficante ou sequestrador, aí sim eles aparecem..."
Marcelo P. Castro (São José dos Campos, SP)

Soluções fáceis
"Realizar teste no final do curso médico para avaliar a capacidade profissional dos recém-formados e das suas respectivas escolas, como querem o ministro da Educação e o nobre jornalista Gilberto Dimenstein, revela como as soluções fáceis para abordar problemas complexos também podem enganar pessoas inteligentes. Tive a oportunidade de estudar nos EUA e vivenciar esse problema com os estudantes americanos. Além dos desvios criados por esse tipo de seleção, com a criação de estrutura paralela para dar suporte aos candidatos à semelhança dos nossos cursinhos de pré-vestibular, nenhum estudo científico demonstrou a eficiência desse sistema para garantir a qualidade de formação. Assim, mais de 20 anos após a existência dessa forma de avaliação nos EUA, as melhores escolas de medicina continuam sendo as mesmas (Harvard, Stanford, Cornell etc.), embora os melhores classificados nesses testes geralmente provenham de escolas reconhecidamente inferiores."
Bráulio Luna Filho, doutor em cardiologia pós-graduado pela Universidade de Harvard (São Paulo, SP)

"Então a União Nacional dos Estudantes (UNE), através de seu presidente, Fernando Gusmão, não quer avaliar os estudantes e formandos? E por falar em representantes, não seria bom também avaliar a 'representação' da UNE? Votar é democrático e avaliar é sadio, sr. Fernando Gusmão."
Marize Amatucci (São Paulo, SP)

Anjos do Asfalto
"Acabo de ler, estarrecida, que os maravilhosos Anjos do Asfalto vão encerrar suas humanitárias ações de socorro gratuito às inúmeras vítimas de acidentes na Via Dutra. Nada justifica, nada mesmo, que o Estado dificulte a ação dos Anjos, que já salvaram milhares de vidas. Além de não proporcionar atendimento semelhante, o Estado quer impedir esse socorro?"
Eunice Ribeiro (São Paulo, SP)

Questão nº 1
"A cidadania solidária com soberania é prioritariamente a questão nº 1 para a reforma que precisamos realizar no nosso Brasil."
José de Britto Jr. (Recife, PE)

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