São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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O Brasil do sim, do não e do mais ou menos

PAULO PEREIRA DA SILVA

Você é a favor de uma profunda revisão na atual Constituição? Sim (75%). Do fim dos monopólios e que o Estado possa privatizar as empresas estatais? Sim (65%). De uma reforma fiscal e tributária que diminua impostos? Sim (93%). Do fim da estabilidade do funcionário público? Sim (65%).
Você aceita fazer um sacrifício para melhorar o sistema previdenciário? Sim (73%). Você quer o fim das aposentadorias especiais de parlamentares? Sim (92%). Concorda em aumentar o tempo de serviço para a aposentadoria das mulheres? Não (91%). Você aceita o fim da aposentadoria por tempo de serviço? Não (84%). Como você julga hoje o governo de FHC? Mais ou menos (55%).
Isto é, certamente, o que pensa hoje a maioria dos trabalhadores, pois é precisamente a opinião dos metalúrgicos de São Paulo. Basta perguntar. Os impressionantes resultados acima citados, aferidos por recente pesquisa realizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, com cerca de 20 mil entrevistados em um universo de aproximadamente 350 mil assalariados metalúrgicos deste Estado, é a melhor indicação de que, para os trabalhadores brasileiros, já não basta um país apenas sem inflação e com uma economia momentaneamente estabilizada.
O clima de amplas liberdades políticas vivido no Brasil e inaugurado pela eleição de Tancredo Neves (no Colégio Eleitoral, é bom lembrar) há quase uma década apresenta os seus resultados na consciência dos trabalhadores. Democracia é isso, felizmente. Ela nos permite rapidamente aprender e a dizer, alto, para que todos ouçam, que é preciso muito mais, sempre.
Procurar uma única razão para essas respostas valeria dizer: vamos despir o país dessa camisa-de-força rota, pesada e antiquada. Queremos uma Constituição que possa "vestir de verão" nossa sociedade. Bem costurada, leve e que nos dê agilidade para vencer o embate contra o fisiologismo, a incompetência, o corporativismo, a corrupção e os ideólogos do estatismo. Numa palavra, o atraso.
O Brasil positivo que devemos construir é o Brasil da plena cidadania. De um povo honesto, trabalhador e que já tem idéia de como a modernização do país poderá lhe beneficiar. Que quando é consultado —como foi recentemente na eleição de FHC— diz querer um Estado eficiente e que cuide bem de suas verdadeiras atribuições, uma administração enxuta, com um funcionalismo competente e bem pago, um país sem inflação, estável e com uma economia gerando empregos. Mas para isso são necessárias reformas. E reformas de verdade.
O Brasil produtivo que queremos precisa acabar com a legislação ultrapassada e que garante os monopólios estatais, permitir que se abram as portas e janelas da Petrobrás e das Teles para que os novos ventos da Usiminas, CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e outras possam nelas entrar.
O país precisa de uma reforma fiscal e tributária sem arremedos. De mais arrecadação e menos sonegação, de menos impostos e mais empregos. De parceria concreta entre trabalhadores, empresários e governo em torno de um novo projeto para o Brasil, com crescimento econômico e justiça social. Afinado aos novos tempos e integrado internacionalmente.
O Brasil generoso que somos entende que para botar esse trem em novos trilhos será preciso ainda mais sacrifícios de quase todos. Que a reforma dessa Previdência falida deverá cortar na carne um sem-número de históricos e escandalosos privilégios. Que é preciso encontrar alternativas realistas e duradouras para corrigir deformações promovidas ao longo dos anos pela falência do atual sistema.
Mas, atenção, esse Brasil responsável também entende que é preciso levar em conta as palavras de campanha e os contratos estabelecidos. O presidente FHC sabe, porque o governo também faz pesquisa, que é quase consensual entre os trabalhadores a defesa da aposentadoria por tempo de serviço e a aposentadoria diferenciada para as nossas mulheres.
Podemos (e devemos) encontrar alternativas que sejam melhores. Não somos contra novos mecanismos, desde que nos convençam serem mais eficientes e que, sobretudo, nos possam dar a opção de escolha.
O Brasil insatisfeito é tudo o que não queremos. Um país sem rumo, que assiste perplexo à discussão das indispensáveis reformas cair em terreno pantanoso, negativo, sem articulação política e marcada por encaminhamentos inadequados do governo.
É preciso reverter esse quadro. É preciso ajudar o presidente Fernando Henrique a sair desse perigoso "mais ou menos" para que o governo e as forças vivas da sociedade possam fazer o Brasil transitar da democracia política dos anos 80 para o Brasil das reformas modernizadoras deste final de século, o Brasil que queremos, o Brasil de todos.

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