São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Tereza Rachel volta à TV para morrer

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Para Tereza Rachel, que interpreta a personagem Francesca na nova novela global das oito, "A Próxima Vítima", a violência da trama de Sílvio de Abreu não é tão grande quanto se alardeia: "a TV está cheia de violência".
Em entrevista ao TV Folha, a atriz revela que sua personagem é uma das primeiras a ser assassinada e aposta no sucesso da novela junto ao público. Para ela —que só aceitou participar de "A Próxima Vítima" porque sua personagem tinha os dias contados—, as novelas são longas demais e as emissoras de TV deveriam ser obrigadas a exibir programas de alfabetização no horário nobre.

Folha - A sra. acha que uma trama policial vai funcionar no horário das oito?
Tereza Rachel - Acho que vai ser um estouro. Antes de ir para o ar já havia muito interesse sobre a novela, que tem um cast de primeira da Globo. E é uma novela muito bem escrita. O Sílvio de Abreu sabe escrever. Tem muita trama, muita ação.
Folha - Não existe o risco de a novela descambar para a violência gratuita?
Tereza Rachel - De violência a televisão está cheia. Mas acho que não vai ter nenhum tipo de violência gratuita porque o que vem sendo mostrado são chamadas para a novela... Mas não tem isso não.
Folha - Uma novela que mostra vários crimes não pode se tornar pesada demais para o horário ?
Tereza Rachel - Não vai ser assim não, só no início é que morrem duas pessoas, eu e o (Francisco) Cuoco. Mas depois são mortes gradativas (risos). Mas a novela não tem muita morte não. Não é tanto como se diz. A novela também tem análises psicológicas dos personagens, observações de costumes.
Folha - A sra. não se sentiu incomodada pelo fato de entrar em uma novela sabendo que seria uma das primeiras vítimas e deixaria a trama no início?
Tereza Rachel - Não, eu só pude aceitar por causa disso, porque tenho que começar a ensaiar a peça "Um Encontro no Supermercado", uma comédia da autora israelense Shula Meggido que estréia em junho no meu teatro. Não sou das atrizes que fazem novela e teatro ao mesmo tempo. Não consigo, me deixa muito baratinada. Gosto de fazer uma coisa de cada vez e com profundidade.
Folha - Qual é o grande trunfo da novela "A Próxima Vítima"?
Tereza Rachel - Éo policial. Poucas vezes se fez policial em novela. Depois, é escrita pelo Sílvio de Abreu, que não erra uma. E é dirigida pelo Jorge Fernando, que, de modo geral, não erra uma. Depois tem o cast, depois eu (risos)...
Folha - Como a sra. analisa a volta à estética tradicional das novelas e o abandono dos grandes efeitos especiais, anunciados por Jorge Fernando?
Tereza Rachel - Isso eu não posso responder. Quem pode responder é o Jorginho Fernando ou o autor. Não sou uma mulher de televisão, faço de vez em quando, para dar um alô para o Brasil. Sou uma mulher de teatro, não entendo dessas coisas.
Folha - A sra. acha que a telenovela ainda causa impacto, ou seria um gênero desgastado?
Tereza Rachel - Quando é boa, causa. O desgaste vem da extensão, do tempo que ela dura. Ninguém consegue escrever algo que interesse oito meses, ninguém consegue representar oito meses, fazendo trinta cenas por dia. Ou eles diminuem o número de capítulos, com uma novela ficando no ar no máximo uns quatro meses, ou não há quem consiga escrever. Os autores quase morrem de infarto, alguns já morreram, os atores também. A ambição financeira não pode ser tanta. Haja imaginação e saúde. Não dá para fazer nada caprichado. Os especiais são caprichados porque não são feitos nessa correria. É aí que está a coisa, vamos botar o dedo na ferida.
Folha - A sra. considera que essa aposta da Globo em uma trama policial no horário nobre tem alguma relação com o sucesso de audiência do telejornal "Aqui e Agora", do SBT, que investe muito no noticiário de crimes?
Tereza Rachel - Acho que o governo só devia dar concessão para quem pusesse no horário nobre programas de alfabetização para o povo brasileiro. O importante é erradicar o analfabetismo no país, e só vejo essa maneira. Quando o operário chegasse do trabalho, ao invés de ver novela, teria que se alfabetizar.

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