São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
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Posto de troca de seringa fica vazio

LUIZ FRANCISCO

Nenhum usuário de drogas de Salvador procurou serviço no primeiro dia de funcionamento
No primeiro dia de troca de seringas novas por usadas, nenhum usuário de drogas compareceu ontem ao Cetad (Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas), em Salvador (BA).
O coordenador do programa de "Atenção dos Usuários de Drogas Injetáveis e Prevenção do Vírus HIV", Tarcísio Matos de Andrade, disse que a ausência dos usuários no primeiro dia é "natural".
"Os usuários se sentem alvo dos jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas", afirmou Andrade.
Ontem, o Cetad divulgou os dois primeiros locais onde a troca de seringas pode ser efetuada. A partir de hoje, a troca pode ser feita no próprio Cetad, na rua Pedro Lessa, 123, Canela, telefone (071) 336-3322, e no Pelourinho (centro histórico).
No Pelourinho, não há um endereço fixo para a troca de seringas. "As pessoas da comunidade conhecem os integrantes de nossa equipe", disse Andrade.
Segundo ele, funcionários do Cetad vão entrar em contato com os usuários de drogas do Pelourinho cadastrados no órgão para anunciar a troca de seringas.
O programa foi lançado pelo Ministério da Saúde e tem o apoio do governo estadual e Prefeitura de Salvador. A capital baiana é a primeira cidade brasileira a implantar o programa.
Outros 14 municípios também devem participar do programa. Segundo Andrade, há um estoque de 10 mil seringas para a troca.
Para receber a seringa nova, o usuário deve levar uma outra usada. "Não vamos limitar o número de seringas no momento da troca", afirmou Andrade.
Segundo ele, em 1986 o Brasil tinha registrado 1.800 pessoas com Aids (3% foram contaminadas por drogas injetáveis).
Hoje o país tem aproximadamente 60 mil casos confirmados de Aids. "Cerca de 23% desses casos foram contraídos por drogas injetáveis", disse Andrade.
Entre os 250 usuários de drogas cadastrados no Cetad, 60% são homens entre 15 e 30 anos.
O cadastro do Cetad revela também que todos os 250 cheiram cocaína e pelo menos 90% são pobres e desassistidos. "Este programa contribui para salvar vidas."
Segundo o coordenador do programa, em São Francisco (EUA), o índice de pessoas que contraem Aids por drogas injetáveis tem se mantido em 15% desde que as seringas começaram a ser trocadas, há oito anos.

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