São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
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Preços de São Paulo assustam F-1

RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os preços surpreenderam o mundo da F-1 que aportou na cidade de São Paulo para o GP do Brasil, que acontece domingo, em Interlagos.
O antes convidativo cruzeiro foi substituído pelo valorizado real, encarecendo as compras de mecânicos, engenheiros e todo o pessoal das equipes da modalidade, pela proximidade do valor da moeda nacional com o dólar.
A primeira vítima da "inflação para estrangeiros" foi o massagista de Jean Alesi, Gualtiero Randi.
Ontem pela manhã, ele visitou junto com dois engenheiros da Ferrari o cemitério do Morumbi, onde está enterrado o piloto brasileiro Ayrton Senna.
"Planejava levar bonés e bandeiras com o nome de Senna para dar para minha família, mas os preços estavam muito caros", disse o italiano.
Gualtiero espera ver melhor preço nas barraquinhas próximas ao autódromo de Interlagos, zona sul de São Paulo.
Faz sete anos que ele vem ao Brasil e afirma nunca ter visto preços tão altos. Antigamente, voltava carregado de souvenirs.
"Nos outros anos, vinha aqui e comprava muitas camisetas com imagens do Brasil e o uniforme de times", disse o massagista.
Outro integrante da escuderia italiana, o mecânico Nigel Stepney, também viu frustrado seu banho de loja.
"Tudo está muito caro", disse o inglês."Há 15 anos venho participando do Grande Prêmio do Brasil e sempre compro cristais em rocha e bijuterias para minha mulher".
Para Stepney, o Brasil deixou de fazer parte da lista de GPs bons para consumo.
"Agora só restam os GPs do Canadá e Austrália", disse o mecânico. "Lá os preços são bem mais baixos que na Europa."
Outro que se queixou dos preços das lembrancinhas foi o italiano Cesare Fiorio, chefe da equipe francesa Ligier.
"Minha mulher sempre compra muitos biquinis quando vem ao Brasil, mas desta vez ela vai levar só um", disse o italiano.
Cesare não pretende fazer compras para ele mesmo e diz que a última vez que consumiu no Brasil foi em 1990: comprou uma jaqueta de couro.
Para outros, o choque da alta das preços terá efeito retardado: são aqueles que irão comprar com cartão de crédito internacional.
Um representante dessa facção é o engenheiro Christian Blum, da fabricante Renault.
O técnico francês afirmou que compraria camisetas da marca francesa "Lacoste" na loja da grife instalada no hotel Transamérica, onde estão hospedadas todas as equipes.
"A qualidade é inferior à feita na França, mas eu acho que o preço compensa", disse.
Como Blum, o carregador da McLaren Jerry Good não pensa comprar nada tipicamente brasileiro."Quero ir ao shopping Morumbi comprar um dockside".
Uma reportagem da Folha publicada dia 19 de fevereiro mostrou que São Paulo é uma das cidades mais caras do mundo.
Em comparação com metrópoles como Rio de Janeiro, Nova York, Londres, Paris, Buenos Aires e Pequim, a cidade-sede do GP Brasil superou as rivais em diversos itens.
Entre eles, estavam produtos como carro popular, televisor e roupas, e serviços como locação de vídeo e restaurantes.
A pesquisa revelou que o paulistano gasta 11,45% mais que o nova-iorquino e 35,66% mais que o parisiense para comprar os 36 produtos e serviços pesquisados.

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