São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
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Magy Imoberdorf expõe obras de sua maratona de desenho nos EUA

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando a artista e publicitária suíça Magy Imoberdorf, residente em São Paulo, resolveu ir a Nova York para "liberar seus traços e soltar-se de uma formação artística rígida", ela desconhecia a obsessão de que eram capazes os norte-americanos.
O contato com essa realidade obsessiva foi extenuante. Ela se inscreveu na "Maratona de 100 horas de desenho" , promovida pela New York Studio School of Drawing, para artistas convidados.
Durante duas semanas, a artista e publicitária desenhou, apagou e redesenhou o dia inteiro. Agora, ela expõe o resultado da façanha na galeria Mônica Filgueiras, em São Paulo.
A exposição tem caráter didático. Dirigida ao público em geral, mas particularmente a artistas, ela mostra seis desenhos de 2 m x 2 m, cada qual usando materiais diferentes -carvão, pastel, tinta.
Os desenhos estão ladeados por painéis fotográficos que registram sua produção no atelier da escola. A mostra apresenta ainda cartazes com frases do professor e diretor da escola, Graham Nickson.
Uma frase emblemática de Nickson: "Não tente fazer uma obra de arte; faça uma experiência -se ela for honesta, será arte".
Com esse espírito de experimentalismo na cabeça e com pedaços de crayon manuseados por mãos de aço, o professor criou uma "metodologia da exaustão".
Algumas de suas orientações para um pedaço de papel: "desenhe com carvão por quatro horas; divida o trabalho no meio, em duas partes, com uma corda. Use 30 minutos para refazer cada parte, embaixo e em cima. Agora repita tudo."
Na verdade, foi esse pensamento de levar a obra até os limites do fazer artístico que norteou e produziu os melhores resultados em termos de arte norte-americana do século 20. Basta ver as pinturas de Jackson Pollock e De Kooning para confirmar essa tese.
A New York Studio School, que fica no bairro do Village, foi, em 1907, o estúdio da artista e mecenas Gertrude Vanderbilt Whitney, que, em 1931 transformou-o no primeiro Whitney Museum of American Art.
Agora, o local virou escola e o museu -o melhor espaço do país para se ver arte americana deste século- transferiu-se para um edificio de Marcelo Breuer, na Madison Avenue, com a rua 75. A "metodologia da exaustão" de Nickson segue o preceito de que arte contemporânea não tem a ver com a técnica, mas sim com a percepção consciente. A consciência, para ele, vem com a repetição. Na visão de Magy Imoberdorf, a mais forte noção deixada pelo incomum workshop é a de que uma obra nunca deve ser considerada acabada.
"A idéia é preencher todos os espaços, fazer com que cada milí metro do papel conte uma história interessante. A idéia norte-americana é oposta à oriental, que valoriza os espaços em branco", disse. Na inauguração da exposição, hoje, às 18 horas, a artista fará demonstrações da metodologia aprendida.
Utilizando um enorme painel de papel em branco e bastões de carvão, ela também convidará os visitantes a experimentar a arte do desenho compulsivo.

Exposição: Maratona de 100 Horas de Desenho de Magy Imoberdorf Quando: abertura hoje, às 18h; quinta e sexta, das 11h às 19h, sábado, das 11h às 14h; até 25 de março
Onde: Mônica Filgueiras Galeria de Arte (al. Ministro Rocha Azevedo, 927, tel. 011/282-5292)

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