São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
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Tecnoterror é a mais nova ameaça, diz escritor

ROGÉRIO SIMÕES
DE LONDRES

A idéia de um atentado em um metrô de uma grande cidade, com agentes que atacam o sistema nervoso, foi imaginada pelo escritor Gordon Thomas, 62, em um livro publicado quatro anos atrás.
Em "Deadly Perfume" (Perfume Mortal), de 1991, Thomas descreve como um grupo terrorista soltou uma mistura dos agentes sarim, utilizado no ataque de Tóquio, e anthrax.
Como no Japão, no livro de Thomas os terroristas testaram sua arma primeiro em uma pequena cidade, antes de atingir uma grande metrópole.
Em entrevista à Folha, por telefone, de Dublin (Irlanda), Thomas disse que ficou chocado quando soube do atentado de segunda-feira. Segundo ele, o mundo enfrenta hoje uma nova forma de terrorismo, que ainda não tem como ser evitada.

Folha - Qual foi a sua reação quando ficou sabendo do ataque no metrô de Tóquio?
Gordon Thomas - Eu fiquei horrorizado, ainda estou. Isso me deixou bastante irritado.
Folha - O senhor acha que existe alguma forma de tornar os metrôs mais seguros contra este tipo de ataque?
Thomas - Não. Apenas se todo mundo for mantido do lado de fora. O problema com um agente nervoso é que ele não é detectável até ser solto. É por isso que eu chamei meu livro de "Deadly Perfume" (Perfume Mortal), porque é exatamente o que ele é. Você pode pegar um vidro de perfume, encher com o seu anthrax ou sarim e uma pequena essência de perfume para dar a cor certa. Você pode levar a garrafa com você, deixar num trem do metrô e você tem o sistema perfeito de destruição.
Folha - O senhor acredita que pessoa que deixa a garrafa no local teria tempo para fugir sem ser afetada?
Thomas - Isso depende. Nós sabemos agora que há um suspeito sob custódia no Japão. É possível, você pode fugir, mas você sabe, essas pessoas são suicidas.
Folha - Nós tivemos oito mortos em Tóquio. O senhor acha que nós poderíamos ver um número maior em futuros ataques?
Thomas - Sim, acho. Nós tivemos 3.000 feridos, 600 seriamente, mas estes números não significam realmente nada, porque o que interessa é a nova forma de terrorismo tecnológico que o mundo vai ter que enfrentar agora.
Folha - O senhor acredita que o autor do atentado pode ter lido seu livro e tirado a idéia da história?
Thomas - A Associated Press acabou de me informar, de Tóquio, que o livro tem sido muito vendido por lá... É espantoso pensar que alguém leu o livro e disse: "eu posso fazer isso".
Folha - Esta forma de atentado seria possível apenas nos metrôs?
Thomas - Não, porque sarim é mais pesado que o ar. O metrô é o sistema perfeito para ele se dispersar, mas na verdade em qualquer lugar que ele aja, em qualquer circunstância, é mortal.
Folha - Não existe então nenhuma forma de a segurança dos metrôs impedir que isso aconteça?
Thomas - Como você vai procurar nas bolsas de todo mundo, checar seus bolsos, ver o que estão carregando? Você teria que checar toda garrafa, todo isqueiro, tudo.
Folha - O senhor acha realmente que isso pode ser o mais novo tipo de terrorismo que nós vamos ver agora?
Thomas - Sim, é o novo terrorismo tecnológico, eu o chamo de tecno- terror. É como uma bomba de nêutrons.
Folha - Haveria alguma forma de controlar a comercialização deste agente?
Thomas - Você não pode comprá-lo, ele é possuído apenas por governos. Este sarin, eu acredito, veio da União Soviética, é parte do colapso da infra-estrutura militar.
Folha - Haveria hoje um grande mercado paralelo para este produto?
Thomas - Absolutamente. Mais e mais pessoas estão querendo comprar este tipo de material.
Folha - Onde este agente seria encontrado hoje? Ele poderia estar sendo vendido nos EUA, por exemplo?
Thomas - Não, não nos EUA. Você o encontraria, certamente, no Extremo Oriente. Em Bancoc, por exemplo.
Folha - Ninguém assumiu a responsabilidade pelo ataque. O senhor acredita que alguém poderia estar apenas testando para saber o efeito deste material e estar planejando outro ataque em algum outro lugar?
Thomas - Esta é uma boa questão. Esta pessoa não precisa anunciar quem é. Isso pode acontecer de novo em qualquer outro lugar.

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