São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 1995
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Medeiros é acusado de esquema paralelo

CRISTIANE PERINI LUCCHESI

(continuação)
DESILUSÃO
"Ele (Medeiros) tem essa mania de eliminar as pessoas que o ajudaram sem fazer a mesma discussão que fez quando se uniu a essas pessoas. Eu acho que isso é um erro, falta de democracia."
"Eu fico decepcionado. Lembro que a primeira vez que fui conversar com o Medeiros, saí da conversa supercontente. Eu falei: 'nossa, esse cara pode ser um novo Lula'. Eu achava que o Lula não era preparado, não tinha condições de ser uma grande liderança. Hoje eu vejo totalmente ao contrário. Achei que na campanha para governador o Medeiros estava totalmente despreparado. Foi decepcionante."
"Nada disso que nós fizemos valeu a pena. Não valeu arrecadar US$ 2 milhões junto aos empresários. Não valeu a pena montar um instituto. Não valeu a pena trabalhar como nós trabalhamos, criar um projeto, porque ele (Medeiros) não é a pessoa adequada para dirigir isso. O Medeiros é um novo Joaquinzão (Joaquim dos Santos Andrade, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo por 22 anos)."
GUARDA-LIVROS
"Isso aqui era um guarda-livros interno nosso. Está com a letra do Marcos Cará. Eram feitas anotações de pagamentos, mas num livro comum, manuscrito. Compra da Geração, olha aqui (mostrou xerox de uma página manuscrita). Isso era nossa contabilidade interna para saber onde nós estávamos aplicando o dinheiro. São os gastos efetuados por esse caixa dois do Medeiros, particular."
"Esse guarda-livros está de posse do Marcos Cará. Eu só tirei uma xerox desta folha aí."
SALÁRIOS POR FORA
"Dessa apuração desses recursos, a gente tinha um salário, eu, o Marcos Cará e o Medeiros. Era US$ 3 mil para cada um. Não era registrado. Eu, Wagner Cicheto, às vezes emitia cheques da minha conta pessoal do Banco Cidade para compra de dólares para meu pagamento, de Marcos Cará e de Luiz Antônio de Medeiros. Exemplo: cheque 65846l da minha conta pessoal do Banco Cidade, que totalizou, na época, US$ 3 mil para cada um. Fizemos isso seguramente mais de um ano."
DESILUSÃO COM MEDEIROS
"No final de 92 o Medeiros começou a se distanciar das questões que ele defendia junto aos empresários, junto aos trabalhadores. Começou a frequentar a alta sociedade. Isso mudou a maneira dele pensar, mudou a maneira dele agir com os dirigentes sindicais. Eu sei, por exemplo, de um dirigente sindical que abandonou completamente a Força Sindical por causa desse tipo de comportamento: Paulo Lucani. Ele abandonou a Força pela maneira personalista como a gente estava conduzindo esse relacionamento do Medeiros com a Força."
"Essa prática continuou e era conduzida pelo Luiz Fernando Emediato."
" Veio o processo do impeachment e nos distanciamos completamente. Porque na nossa avaliação foi um erro político muito grande o Medeiros não ter resistido, porque o programa do Collor era o da Força Sindical. Houve erros no governo Collor? Houve, mas, olha essa corporção do sindicalismo também teve muitos erros. O presidente ligava para ele (Medeiros). E ele dizia: 'As minhas bases estão, elas estão incomodadas, eu não vou ter como defender.' Aliás, isso é prática do Medeiros. Ele fez isso com o Joaquinzão, ele fez isso com a oposição, quando ele era da oposição para derrubar o Joaquinzão, ele teve essa atitude. Teve essa atitude com o Collor, uma atitude covarde, que eu considero uma atitude covarde. E isso acabou atingindo ele também, porque à medida que o Collor foi derrubado, ele teve problemas. A Força sofreu uma derrota muito grande em termos de organização e de programa. Foi derrotado o programa da Força."
"O presidente ficou superabatido. Sem nenhuma perspectiva. Sem nenhum aliado. Sem saber o que fazer. O Medeiros não teve nenhum posicionamento, nenhuma solidariedade. Nós não tivemos mais articulação com os empresários. Aliás, voltamos sim a conversar com o Edson Vaz Musa, o presidente da Rhodia. Ele reclamou do posicionamento do Medeiro. Disse que ficou seriamente comprometido tudo o que a gente tinha combinado, aquelas ajudas, que estava difícil, que a empresa não ia mais ajudar."
DÍVIDAS
"Nessa altura (do impeachment de Collor), a gente já começava a ter dificuldes. Ele (o Medeiros), por exemplo, já começava a me dever dinheiro. Eu já não conseguia mais receber. Aí eu fiquei com uma dívida, tem uma dívida de quase US$ 100 mil na praça. Em função de tudo isso. Eu nuca tive nada, nunca tive nada, sou uma pessoa de origem humilde. Nunca tive recursos, eu não poderia ter uma soma de recursos dessas. Eu não poderia ter efetuado uma dívida nesse montante. Então, era servindo a esse esquema. Era servindo ao Medeiros. Eu vou receber esse dinheiro de qualquer forma. Meu intuito eu cheguei a discutir com ele, eu mandei uma carta para ele que ele inclusive interpreta como chantagem, mas eu costumo dizer que você não faz chantagem com gente honesta."
"O Medeiros me deve mais de US$ 300 mil, se for contar tudo. Eu já tentei várias vezes receber esse dinheiro."
OUT DOOR
"Há duas razões sociais da Geração: Geração de Comunicação Integrada Ltda e Geração Editorial. Enfim, a Geração efetuou uma transação ilegal. O pagamento dos outdoors "Nasce uma Nova Força", que foram realizados para a criação da Força, no início de 91, foram intermediados entre o governador Fleury e Medeiros. O pagamento foi feito em cheque pela Andrade Gutierrez e depositado nas contas na agência do Banco Nacional, agência Pinheiros, rua Teodoro Sampaio, 2.155. Então, foi emitido um cheque, eu vi o cheque, eu recebi o cheque. Esse cheque quem recebeu fui eu, o Marcos Cará e o Luiz Fernando Emediato na sede da Andrade Gutierrez, na av. Paulista."
"Eu lembro que o Medeiros conversou conosco e disse: 'Isso está sendo intermediado entre eu e o governador. Eu pedi uma ajuda ao (Jorge) Serpa, ele vai me mandar uma pessoa vir conversar comigo.' Aí veio uma pessoa conversar com ele que foi o comandante, que nós chamamos de comandante Braga, um amigo, um assessor, um secretário do Serpa, esteve no sindicato com o Medeiros e lá eles intermediaram isso. Conversaram com o Fleury e o Fleury prometeu ajudar. O Fleury contatou a Andrade Gutierrez e repassou esse dinheiro."
"Bom, para você ter uma idéia, CR$ 7 milhões foram pagos à empresa Novelli, que confeccionou os outdoors. Olha, pagamento efetuado com o cheque da conta corrente nº 037926-14 do Banco Cidade, agência 0019 para Novelli."

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