São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 1995
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Medeiros diz que Cinchetto faz chantagem

CRISTIANE PERINI LUCCHESI; CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Força Sindical, Luiz Antônio de Medeiros, disse que Wagner Cinchetto estava fazendo chantagem contra ele e usando todas essas denúncias há tempos. "Estou aliviado, agora que ele falou tudo"
Segundo Medeiros, Wagner e Marcos Cará, presidente do Ibes, foram ao advogado Iberê Bandeira de Mello, amigo íntimo do governador do Estado de São Paulo, Mario Covas, em 94, durante a campanha eleitoral para governador, pedindo dinheiro em troca das denúncias. Teria procurado também o PT, segundo Medeiros.
Durante entrevista à Folha, ontem à tarde, no Palácio do Trabalhador, Medeiros ligou para Iberê, que confirmou o ocorrido ao jornalista Clóvis Rossi. "Chegaram a mencionar alguns milhões de dólares", disse Iberê.
"O Wagner realmente trabalhava comigo. Ele saiu porque eu perdi a confiança nele. Era uma pessoa megalomaníaca, como está demonstrado nessa declaração de querer me colocar como sucessor do Collor. É um negócio de maluco. Ele teve várias passagens na polícia, que foi comprovado."
Segundo Medeiros, entre as denúncias que Wagner fez, "tem algumas coisas evidentemente que foram verdade, como por exemplo essa função do Ibes (de arrecadar recursos). Outras coisas são ameaças, maluquices dele."
Medeiros afirmou que tinha um sonho de criar uma central sindical porque "tínhamos um projeto para o sindicalismo diferente das outras centrais existentes no país."
"Eu não dispunha de recursos do exterior, como tem a CUT, nem de estatais. E só os recursos do sindicato, era impossível. Então eu criei um instituto de formação sindical que fosse um suporte para a criação da central. Isso foi responsabilidade minha. Sobre o Ibrades, eu não sei, é coisa do Wagner."
Medeiros disse que pediu mesmo recurso para empresas e considera isso legítimo. "Nós pedimos recurso de forma legal, eu não pedi recurso ilegal. Se eu tivesse alguma intenção criminosa, esse troço (os contratos de contribuição) não estava escrito."
Sobre Luiz Estevão de Oliveira Neto, do Grupo OK, que segundo Cinchetto teria contribuído em dinheiro e sem contrato com o "esquema Medeiros", o presidente da Força Sindical, disse que não acha que "não tem contribuição do Grupo OK. Eu não sei."
Medeiros afirmou ainda que "é um crime supremo contra mim dizer que eu pedi ajuda do esquema Collor."
"Quero lembrar uma coisa, que a Força Sindical teve total independência do Collor, apesar que eu dialogava com o Collor, eu pessoalmente apoiei muitas coisas do programa do Collor."
Medeiros disse que o Collor nunca pediu dinheiro a empresários para a Força Sindical. "Se o empresário colaborou, é que ele sabe que a Força Sindical é uma central que joga na parceria. Capital e trabalho não são inimigos, podem colaborar."
Ele confirmou ter ido para um flat, o Les Jardin, e que o dinheiro teria saída das contas do Ibes. "No dia que eu fui para um flat eu fui por problema político, não fui por separação não. Tinha uma ameaça de sequestro do meu filho."
Segundo Medeiros, não houve reunião secreta em Bragança entre ele, o Collor, Luiz Estevão e Marcos Cará. "Isso só na cabeça dele." Medeiros afirmou ainda que, sobre "o negócio da Florada, eu não tenho nenhuma responsabilidade sobre isso."
Sobre o financiamento à oposição no sindicato de Volta Redonda, Medeiros disse: "Eu posso ter mandado mesmo, mas eu não sei quanto. Se eu pudesse eu mandava até o meu salário porque lá era simbólico, na questão da privatização era simbólico."
(Cristiane Perini Lucchesi e Clóvis Rossi)

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