São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
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Centrais procuram redefinir seu papel

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo Collor teve muitas faces ocultas e o financiamento de empresas e apoio federal à formação da Força Sindical é apenas a última a ser desvendada.
O aparecimento da Força Sindical ocorreu quando a Central Única dos Trabalhadores (CUT), vinculada ao PT, estava no auge de suas forças. As greves eram generalizadas e amplas no final do governo Sarney. O predomínio da CUT era absoluto e seu fundador, Lula, quase ganhara as eleições presidenciais. Collor procurava parceiros para eliminar este poder sindical incômodo, assim como eliminara Lula nas urnas. Para isto, contou com apoio privado.
A revelação das relações de Collor com o "sindicalismo de resultados" de Medeiros ocorre em outra situação. No interior da Força Sindical, novas lideranças —como Paulinho, hoje presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo— disputam espaço próprio com Medeiros, que já não dispõe do poder de antes. Sua liderança cresceu na proporção em que o movimento sindical, especialmente o comandado pela CUT, sofria o seu mais grave retrocesso entre 90 e 92. Hoje, Força e CUT procuram definir seu novo papel.
O ambiente melhorou para as reivindicações trabalhistas, pois a economia se mostrou fortemente aquecida meses a fio —quadro que começa a se reverter agora. Longe de ser uma ficção, o "sindicalismo de resultados" da Força mostrou-se eficaz em obter melhorias salariais e seu exemplo bateu na própria CUT, que tornou-se, em amplos segmentos, mais maleável na mesa de negociações. O acordo do carro popular, na qual a CUT e os metalúrgicos do ABC se empenharam, demonstram uma simbiose de métodos das duas centrais.
Lula perdeu as eleições e a crise do PT se refletiu na CUT. Ela é bem mais amena hoje em promover greves, especialmente no setor público, onde tem mais filiados.
Vivendo por longos anos sob a sombra de Lula, a CUT criou novos líderes, como Vicentinho. A descoberta da história oficial da Força Sindical demonstra que a central vive, de forma bem diferente, o mesmo processo. A central pode enfrentar uma crise agora com o relato de sua verdadeira origem. Mas a Força Sindical hoje não é mais a sobra de Medeiros.

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