São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Padrinho só podia ser Benjor

BIA ABRAMO

Na verdade, a história é velha. O pop brasileiro que deu certo sempre falou português. A geração 90 só acordou antes para o fato de estar fazendo pop com todas as influências internacionais que as lojas de discos oferecem, mas num país chamado Brasil.
Foi só nos equivocados anos 80 que se pensou que transplantar a música, a atitude, as roupas, os comportamentos que se produziam em Londres ou Nova York era o suficiente. Ainda assim, quem sobreviveu —ou durou mais que um hit— foi quem dialogou com a tradição musical brasileira. Seja através do ritmo, como os Paralamas, seja pela poética, como os Titãs e seu minimalismo inspirado nos concretos e a Legião Urbana se remetendo ao sentimentalismo luso-brasileiro, as bandas que fizeram a história recente do pop nacional tiveram que aprender a traduzir. O Skank, como os Raimundos, Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, já chegou sem crise de consciência. Reggae e dance hall convivem harmoniosamente com samba e o brega, noise mais maracatu mais ousadia dá em mangue beat, hardcore agressivo acha seu parentesco com a safadeza do baião.
O padrinho dessa turma não poderia ser outro além de Jorge Benjor —e não foi à toa que ele foi redescoberto nos anos 90. Afinal, desde os anos 60 ele vem demonstrando que MPB pode ser lida como música pop brasileira.

Texto Anterior: Skank não é fumo
Próximo Texto: Perfil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.