São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995
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Ex-assessor aponta nova irregularidade

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Wagner Cinchetto, ex-assessor de Luiz Antônio de Medeiros e ex-tesoureiro do Ibes (Instituto Brasileiro de Formação Sindical), diz que terá que depor novamente no inquérito que apura desvio de recursos em convênio firmado entre o governo do Estado e o instituto.
No novo depoimento, Cinchetto dirá que Medeiros ficou, durante "meses", com pouco menos da metade dos cerca de US$ 120 mil desembolsados pelo governo do Estado de São Paulo em 90 e 91.
Cinchetto, em entrevista exclusiva à Folha, denunciou a existência de um esquema paralelo de Medeiros para arrecadação de recursos na semana passada.
Em 12 de setembro de 90, ainda na gestão Orestes Quércia, a Secretaria de Trabalho e Promoção Social do Estado e o Ibes, ainda com Medeiros na presidência, assinaram convênio para o desembolso dos cerca de US$ 120 mil (Cr$ 8.340.000,00) para a "mútua colaboração para realização de curso de formação e capacitação de dirigentes sindicais".
Foram dois cheques de Cr$ 4.170.000,00, um desembolsado no dia 21 de setembro de 90 e outro no dia 22 de fevereiro de 91. Medeiros renunciou à presidência do Ibes em 6 de dezembro de 90, mas recebeu o segundo cheque.
A partir de denúncias de irregularidades em notas fiscais, recibos e atraso na prestação de contas, feitas pelo então deputado estadual Luiz Azevedo (PT), a Promotoria de Justiça do Ministério Público do Estado pediu a abertura de processo criminal e civil, ambos ainda em andamento.
O promotor de Justiça Waldo Fazzio Júnior, assessor do Procurador Geral de Justiça José Emanuel Burle Filho, informou que Medeiros e Cinchetto já deram seus depoimentos no inquérito.
Cinchetto diz que, depois das denúncias terá que depor novamente. Segundo ele, "esse cheque foi repassado ao ex-tesoureiro, o Décio Cardoso, que era secretário particular do Medeiros. Eu questionei, na época, o fato dessa segunda parcela ser repassada a ele e Medeiros disse: 'Eu estou dizendo que tem que ser feito assim'."
Cinchetto afirmou então que "isso passou algumas épocas, alguns meses, eu cheguei várias vezes a questionar isso. Ele disse que estava resolvendo, ele, o Marcos Cará e o Décio Cardoso e o governador estavam resolvendo o problema dessa segunda parcela e que eu fosse fazendo a prestação de contas normal como se tivesse recebido o dinheiro."
O ex-tesoureiro do Ibes afirmou ainda que se afastou do instituto e não teve condições de fazer uma investigação a respeito.
Ainda segundo Cinchetto, "o Medeiros quer jogar a responsabilidade desse processo todo em cima de quem dirigia o instituto na época", ele e o presidente Marcos Cará, que vai depor no próximo dia 27 de abril. Segundo Cinchetto, Medeiros contratou advogados só para defendê-lo e não para defender o instituto.
Wagner Cinchetto afirmou ainda que "todo esse trâmite que Medeiros tem na Rede Globo é fruto de alianças com o Jorge Serpa. Ele sempre foi um dos mais poderosos aliados do Medeiros, um consultor em todas as ações." Jorge Serpa é advogado e ligado a Roberto Marinho, diretor-presidente das Organizações Globo. O ex-assessor diz ter visto Serpa e Medeiros reunidos "várias vezes".
Ainda segundo Cinchetto, "o Medeiros teve um problema aqui com o Mário Covas e com o PSDB paulista. Então, como está sendo feita essa aproximação? Essa aproximação está sendo feita via Antônio Carlos Magalhães, com consultoria do Serpa."
Por fim, outra denúncia feita por Cinchetto é que "nessa questão do monopólio das comunicações, o Medeiros tem conversado diariamente com o ministro das Comunicações, Sérgio Motta."

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