São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995
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Oposição começa 'arrastão' contra reforma

MARTA SALOMON; SILVANA QUAGLIO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Panfletagem em todo o país dia 29, greves setorizadas a partir de abril, um dia nacional de protesto daqui a um mês. Com essa programação, trabalhadores do setor privado, aposentados e funcionários públicos investem numa espécie de "arrastão" contra a reforma constitucional.
No Congresso, a oposição às reformas ganha fôlego diante dos sinais de divisão da base política do presidente Fernando Henrique Cardoso. Lançado oficialmente na última quarta-feira, o movimento das esquerdas conta com cerca de cem votos na Câmara, por onde começa a votação das emendas.
"Como número, não é suficiente", calculou o líder do PT, deputado Jaques Wagner (BA). "Mas precisamos apenas evitar que o governo reúna 60% dos votos para impedir que as coisas se modifiquem", ponderou, animado.
O PT e o PDT, maiores partidos da esquerda, já decidiram votar contra todas as propostas de abertura da economia e quebra dos monopólios. Defendem um amplo acordo nacional para garantir as reformas tributária e da Previdência, consideradas mais urgentes.
Os presidentes do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e do PDT, Leonel Brizola, se reúnem amanhã. Os dois pretendem liderar o primeiro ato nacional contra as reformas, marcado para 27 de abril.
A defesa do patrimônio público (leia-se empresas estatais) é a principal bandeira desta aliança. Lula avalia que a abertura na economia é um "pedágio" que FHC está pagando aos aliados conservadores da campanha presidencial e fere os interesses nacionais.
Na tentativa de ganhar apoio da sociedade para suas causas, aposentados, petroleiros, telefônicos e sobretudo os funcionários públicos estão estimulando um movimento ainda mais radical —contra qualquer mudança na Constituição.
"Somos contra toda e qualquer mudança na Constituição de 88", diz Humberto Campos, dirigente da Federação Única dos Petroleiros, filiada à CUT (Central Única dos Trabalhadores). A categoria vai investir no lobby, financiado por uma contribuição média de 2% sobre os salários dos petroleiros.
Dispostos a bombardear as bases eleitorais dos parlamentares, os aposentados aderiram. Não aceitam o diagnóstico de que a Previdência está à beira de um colapso financeiro.
"A pretexto de salvar o Plano Real, que está fazendo água, o governo quer é acabar com as nossas conquistas", alega o diretor da Confederação Nacional dos Aposentados e Pensionistas, Adelino Cassis.
A Fittel (Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações) também assumiu o ataque às mudanças na Previdência, que mais chances têm de mobilizar a população contra as reformas, e ao conjunto da Carta.
Funcionários públicos —mais preocupados em não perder a estabilidade e a aposentadoria integral— planejam uma greve para o mês de abril.
A tendência de radicalização preocupa parte da esquerda. "Fazer arrastão contra a reforma é uma inconsequência: não podemos contestar a legitimidade do presidente da República", defende o senador Roberto Freire (PPS-PE).
A radicalização poderá levar a uma crise no país, sustenta o deputado José Genoino (PT-SP). "O movimento contra as reformas pode crescer e a reforma empacar se o governo for inábil, mas precisamos buscar uma alternativa, senão vamos para a crise", disse.

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